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Meu nome é Thiago Caro e em Novembro de 2008 decretei uma moratória a mim mesmo.
Morei um tempo bom em Michigan e viajei boa parte dos EUA em treinamento para o trabalho voluntário relacionado a educação que agora faço em Moçambique. Em Fevereiro de 2010 irei de Moçambique a Israel em uma viajem cruzando por terra, em transporte local, Tanzania, Kenya, Ethiopia, Sudão e Egito. Escrevo este blog como maneira de compartilhar minhas experiências e bobagens com todo aquele que ache interessante e fale português.

thiago_caro@hotmail.com

Saturday, March 20, 2010

Mocimboa da Praia, 13.03.2010

O barco saiu de Ibo logo apos o meio dia e segui com mais umas 10 pessoas navegando por 3 horas no Indico turquesa, as aguas rasas do arquipelogo das Quirimbas sao o pedaco de oceano mais lindo que ja vi, durante o tempo no barquinho a vela pude ver muitos corais que dificultam a navegacao, gigantes moluscos que desconheco do tamanho do meu braco, muitas medusas com tentaculos longos daquelas que queimam so de olhar. No caminho uma parada na ilha Matemo, outra do arquipelogo, sem o valor historico de Ibo mas com as praias mais bonitas ja que a agua tinha vida, tudo se mexia, peixes coloridos, polvos, lulas, medusas ... tive vontade de ficar por la mas a certeza de que teria que esperar a mare trazer outro barco para voltar me fez continuar.

Uns 30 minutos depois da saida de Matemo chegamos a Ulumbue, uma pequena baia sem nada parecido com estrutura ou facilidades (vendas, acomodacao, transporte) e percebi que estava fudido. Ao atracarmos peguntei ao capitao, un tanzaniano de barba comprida e chapeu muculmano (aqueles so no cucuruto) aonde seria a acomodacao que havia me dito possivel na baia, onde esperaria o tranporte para Macomia que sairia as 3.00hs e ele me tranquiliza dizendo que seria em sua casa. Descubro que mais dois condenados vao esperar comigo o transporte a Macomia e posteriormente Mocimboa da Praia.

Saimos eu e os dois tanzanianos que seguiriam viagem comigo para andar um pouco e conhecer Ulumbue que na verdade e' uma daquelas comunidades lindas com um estilo de vida mais do que sossegado... casinhas construidas com muita criatividade utilizam a lama do manguezal, bambus e conchas... sim as conchas dos moluscos gigantes misturadas com a lama viram concreto, ou algo parecido. Atravessamos o mangue com lama ate os joelhos e agua ate o peito e chegamos a uma praia linda, cheia daqueles passaros grandes que sao comuns em praias com manguezal por aqui... comuns por aqui pois so' existem aqui, muitos passaros, muito lindo. No fim da tarde voltando para a casa do pescador encontramos muitas meninas pintadas segundo a tradicao Makonde com os rostos completamente brancos, boas fotos.

Ao chegar na casa vejo a esteira que o barqueiro colocou do lado de fora para que dormissemos, bonito, brisa do mar, o contorno de palmeiras e coqueiros muito altos mas a mulher que era cunhada do barqueiro passando mal com malaria me fez pensar nos insetos nao convenientes quando se dorme ao relento. A fome batia e estava desprevenido, so tinha amendoins e alguns enlatados , arroz e macarrao, porem estava sem graca de pedir para cozinhar pois sei que iriam querer fazer tudo para mim... enquanto pensava no que fazer meu amigo tanzaniano sacou uma panela com arroz e peixe e colocou um prato para mim sem que eu dissesse nada, esse tanzaniano se mostrou uma excelente pessoa todo o tempo, me ajudou com muitas coisas, conversamos sobre muitas outras.

Dormi um pouco com certa dificuldade e o chapa que nos levou ate Macomia (Mt 100) passou para nos pegar na casa do barqueiro, por ser o unico chapa do dia e nao possuir muitos clientes e' possivel um luxo como estes, por sermos os primeiros tambem tivemos o beneficio de ir dentro da pick up e nao na cacamba. A estrada para Macomia sofrivel, horrivel, medonha e o motorista muito bom pois a pick up era 4x2. Chegamos a Macomia apos 4hs, pelas 7hs e com muita sorte logo depois passou um caminhao que nos levou ate Mocimboa na cacamba, mais 4hs de viagem. No caminho uma passagem curiosa, em uma paragem policial pedem o meu passaporte e o do tanzaniano gente boa pois ele era mulato (nao pedem documento dos locais)... enquanto os policiais perdem tempo olhando meus vistos no passaporte o outro tanzaniano, que nao era la tao gente boa, desce e finge que vai mijar mas entra no mato e vai correndo para mais a frente, na estrada, eu vendo tudo e o policial, como sempre, de costas para a cena. Depois de 1km o motorista para e o tanzaniano volta a bordo. A viagem ate Mocimboa Mt 130,00

Chegando a Mocimboa meu amigo tanzaniano me acompanha ate a pensao mais barata que ele conhece, muito conveniente por ser ao lado do local onde amanha as 4hs pego um chapa ate o Rio Rovuma onde esta a fronteira com a Tanzania, porem extremamente xexelenta com uma agua marrom no balde de banhar... pelo menos com rede mosqueteira. A pousada chama Magib, Mt 300 e possui um bom prato de lulas grelhadas por apenas Mt 60,00

Como Mocimboa e' apenas uma cidade fronteirica e pouco interessante vou descansar em minha cama xexelenta pois amanha as 4.00 comeco minha viagem ate Mtwara, ja na Tanzania.

Tuesday, March 16, 2010

Ilha do Ibo, 11.03.2010 noite

Como combinado ontem, meu camaradinha Sofu chegou pela manha para irmos ate a praia de Nafalore que fica do outro lado da ilha, atravessando pelo manguezal.

Chegou cedo mesmo, despertei com os primeiros raios de sol gracas a sauna instalada dentro da minha barraca e depois de uns 5 minutos ele apareceu. Enquanto esquentava com a lenha um pouco de agua para o cafe o garoto foi buscar umas frutas que eu nunca havia visto, parecidas com uma azeitona roxa mas com um gosto meio que de uva ou coisa assim... comemos umas bolachas e saimos na caminhada

A ilha tem seu proprio ambiente e as pessoas um jeito de viver bonito, muito simples e tranquilo, que nao remete ao passado da ilha, ocupada por povos estrangeiros desde muito e durante muito um dos maiores sitios de comercio de escravos junto a ilha de Mocambique e Zanzibar aonde estarei em breve. Algumas mulheres pintadas de acordo com a tradicao Makonde com o rosto todo branco gracas a uma mistura feite entre uma madeira e agua, pescadores, muitos pouco fazem rapazes jogando um jogo de dados com peoes que nao me recordo o nome agora, muitas mulheres trabalhando como sempre com tudo o que se pode imaginar em cima da cabeca.

Caminhamos pelo manguezal afundando ate metade da canela a maior parte do tempo, muita vegetacao, peixes coloridos, caranguejos (claro), polvos (sim, no raso), ouricos para todos os gostos.... encontramos uma tartaruga grande infelizmente morta nas pedras que aparecem no mangue quando a mare esta baixa, devia ter morrido a pouco pois nao havia nenhum corvo e ninguem havia removido a desencarnada para ficar com o casco.

Apos duas horas de caminhadas por mangues e praias chegamos ao lugar que descobri nao era uma praia e sim um pequeno precipicio apos uma subida pelas rochas ao fim do manguezal, em cima um muito antigo pequeno observatorio. Este ponto da ilha do Ibo volatdo ao mar aberto foi o primeiro lugar avistado por Vasco da Gama antes de 1500.. ficamos ali por um tempo e na volta compramos peixes para o almoco e janta... o menino vai para a escola.

A tarde uma caminhada solo apos um tempo com os meninos que comeram peixe feito na grelha de galhos comigo e fui ate a fortaleza de S. Joao Batista em formato de estrela que esta sendo restaurada e perdendo toda sua originalidade gracas a uma pintura de cal... belas vistas na parte superior.

Ao fim do dia o sol indo dormir no mar trouxe consigo muitos... muitos passaros grandes, atraidos pela fartura de comida do manguezal, nao sei o nome de nenhum alem do flamingo mas eram muitos, grandes, coloridos, uma cena linda, das mais lindas que ja vi na minha vida e na frente da minha barraca de camping. Havia lido em algum lugar que o por do sol em Ibo era azul pastel nao sei mais o porque e a verdade e que o por do sol tem um tom pastel que nunca havia visto antes... enfim uma das coisas mais lindas que ja vi, fiquei sentado na areia observando aquilo por um bom tempo.

Tinha pensado em ir embora amanha de Ibo mas a ilha eh muito, nao sei... agradavel sim, exotica com certeza, o camping ta muito bom, de frente para esse por do sol maravilhoso, uma bomba com agua inodora que eh uma maravilha... particularidade da ilha tambem pois gracas ao ambiente que permite o mangue, nao faltam lencois com boa agua abaixo da terra... um caranguejo grande e gordo acaba de me assustar... quando sai para a fortaleza uma cobra de tamanho respeitavel entrava no camping... Enfim, se meu visto nao expirasse tao breve nao teria duvida em mais uns dois dias. Hoje entre todos os meus gastos foram embora Mt 250 ou uns USD 5 e comi peixe ate nao aguentar mais.

Monday, March 15, 2010

Ilha do Ibo, Mozambique, 10.03.2010

No ultimo dia em Pemba pela noite fui a procura de transporte certo para Quissanga de onde sai um barco chapa ate o Ibo e vi que um Machibombo (minibus) sairia no dia seguinte as 3.00 para Mocimboa da Praia e no meio do caminho faria uma parada em Bilibiza de onde eu conseguiria um outro transporte ate Quissanga, com muita sorte uma carona.

Acordei as 3.00 pois sabia que o machibombo como sempre nao sairia na hora dita e nao saiu... cheguei as 3.30 e ficamos ate as 4.30 rodando, buscando passageiros, pelo menos consegui um lugar sentado... o machibombo Mt 100. Apos um pneu furado e 4 horas de viagem desco em Bilibiza aonde encontro um camarada da ADPP que estava trabalhando la. Espero uma meia hora e um caminhao com cacamba coberta, bem comum aqui e chamado de tanzaniano passa e nos leva ate Quissanga por uma estrada impassavel por um veiculo pequeno nestes meses da estacao chuvosa. Mesmo o caminhao que nao chegou a atolar tinha muita dificuldade em passar por alguns lugares e a viagem de 86 km demorou 2 horas e custou mais Mt100. Comprei a algum tempo uma caixa de fosforos grandes, daquelas duplas para que nao me falte fogo! enquanto no tanzaniano um camarada me pediu fogo emprestado e emprestei a caixa a ele... todo mundo queria ver a caixa e falavam 'coisa de muzungo' enquanto passavam a caixa de mao em mao... falavam mais um monte de coisa mas eu nao entendo nada na lingua local ja bem arabe falada nesta regiao. Salama!

Chegando a Quissanga passamos a primeira praia seguindo no sentido de Tangangara (sip) onde o tanzaniano para quando comeca o manguezal, manguezal diferente daqueles que ja havia visto, com arvores muito grandes que ficam praticamente submersas na mare cheia e completamente emersas na mare baixa. Uma caminhada de 15min pelo manguezal com as malas nas costas, seguindo um senhor que tambem ia para Ibo, e chego a um pequeno barco, mas com motor, que faz o transporte ate Ibo, este barco Mt 50.

Avistar o Ibo eh lindo... o barquinho passa entre duas ilhas bem proximas, num estreito bem estreito quase coberto como um portal pelas altas arvores de ambas as ilhas... ai avista se a ilha ja bem proxima com a fortaleza em forma de estrela construida pelos portugueses. A ilha eh uma das cidades mais antigas do territorio conhecido hoje como Mozambique, foi durante tempos que remetem a mais de mil anos atras, razao de disputa entre Asiaticos do Sul, Arabes e posteriormente portugueses por sua localizacao estrategica na costa de Swahili que era o ponto mais importante de comercio vindo do Oriente, alem de ser naturalmente protegida por aguas rasas e uma longa barreira de corais do Arquipelogo das Quirimbas (33 ilhas) e estar extamente no ponto mais proximo entre Madagascar, Comores e continente. Enfim tem motivo pra ilha ter tanta historia e tambem seus 3 fortes, ruinas da arquitetura de origem indiana, arabe e portuguesa.

Ao contrario do encontrado na Ilha de Mocambique, as ruinas de Ibo tem por razao sim as guerras de independencia e desestabilizacao do ultimo seculo, todas as ilhas das Quirimbas sofreram uma reducao drastica de populacao chegando a maioria delas a estar completamente despovoadas, algumas assim permanecem, outras sao simplesmente inabitaveis.

Chegando ao Ibo o barco para bem proximo a praia e alguns meninos oferecem ajuda com as malas, ajuda com recompensa que aceito e peco para que me levem ate o Karibo (bem vindo em Swahili) tambem conhecido como Casa Joanina, uma casa com alguns quartos, dois bugalows e area para camping. Todas as opcoes bem baratas para um local com cerca de bambu, na areia da praia, com sombra ainda me emprestam o fogaozinho a lenha para que eu possa cozinhar. Para acampar pago uma coca cola... Mt 100

Monto minha tenda e separo tudo o que molhou na viagem com a ajuda de um menino de uniforme que me seguiu ate o camping, combinamos que amanha ele me leva a uma praia do outro lado da ilha cruzando o mato. Devidamente instalado vou dar uma volta procurando por comida e agua ja que os paes que comi no machibombo junto a agua (mineral) ja nao faziam mais efeito. No Ibo nao existe a tradicional Coca Cola na garrafa de vidro vendida em todos os cantos do pais, tambem nao ha energia eletrica portanto nada que necessite de um refrigerador para ser conservado pode ser encontrado. O camping tem um pequeno gerador que eh ligado a noite, um luxo. Sou o unico hospede e desde que sai de Pemba o unico nao africano que vi ate agora.

Voltano a volta, consigo comprar agua, suco, ovos, porem nenhum vegetal, pouquissimas frutas... porem ha peixes e compro um grande. O por do sol no mar com as arvores submersas sem comentarios... nao sei por que motivo os tons pasteis de azul predominavam ao contrario do vermelho que costuma acompanhar o por do sol.. ja havia ouvido que ali o por do sol era azul pastel, mas nao me lembro o porque.

Com carvao arrumado pelo camping faco um arroz com algumas cebolas e os ovos, improviso uma grelha com alguns galhos e pedras que funciona 100% permitindo ate equilibrar cebolas no peixe, modestia parte ficou perfeito. Agora um cafe, uma leitura e o barulho dos muitos e grandes passaros da ilha... pena que tambem todos os insetos que se pode imaginar presentes em uma ilha de grande vegetacao e manguezais na Africa.

Detalhe, hoje os transportes, acomodacao, comida, tudo junto custou Mt 400

Thursday, March 4, 2010

É, na verdade eu ja sabia...

Nada de kassar o Kassab.

Pemba, 24.02.2010 20:00

Uma breve sobre a ilha de Mocambique

Enquanto esperava o chapa pelas 5:00 da manha na pensao Casa Branca, um sr muito simpatico que toma conta da pensao (me foge o nome) ficou jogando um pouco de conversa fora comigo enquanto tomavamos um cafe olhando para o mar. Me contou um pouco sobre os anos de guerra e como foi este tempo na ilha.

Após a perda de interesse dos europeus em suas colonias africanas os paises comecaram a se formar e tornar-se independentes. Em Mocambique houve uma guerra relativamente curta contra os portugueses na época em que se formou a FRELIMO (Frente para a Libertacao de Mocambique) sobre a presidencia de Eduardo Mondlane que foi tambem o primeiro presidente do novo pais ate seu assassinato ocorrido na Tanzania se nao me equivoco. Acontece que com a vitoria da FRELIMO foi dado um ultimato de 24hs para os poucos portugueses que ainda viviam no pais e os mesmos tiveram que fugir deixando tudo o que construiram para tras de maneira um pouco desesperada para nao morrerem... muitos morreram.

A Renamo se formou a partir dos portugueses expulsos e pela briga pelo poder entre os mocambicanos no novo pais sobre a lideranca de um tal Jacama (sip) bicho ruim que esta vivo ate hoje e teve a colaboracao portuguesa para implantar o caos no pais. Apos a derrota humilhante da Renamo nas ultimas eleicoes em Novembro (os dois viraram partidos politicos apos o fim da guerra) o tal Jacama ameacou recomecar a guerra, mas hoje, ninguem apoia o maluco.

A ilha de Mocambique foi declarada patrimonio da humanidade e como ambos, Frelimo e Renamo nao desejavam intervencao europeia direta aqui, a batalha nao foi travada na ilha, por isso as ruinas lá sao pelo tempo e nao pela guerra. Na ilha nao houve batalha mas a guerra castigou muito a populacao local, contava-me o sr com os olhos mareados que a populacao estava livre das balas dentro da ilha porém na ilha nao se planta por falta de terra e portanto as pessoas tem suas machambas (agric de subsist.) na parte do continente e tambem tira alimento da pesca nos entornos da ilha.

Como maneira de atingir a populacao local a Renamo matava periodicamente todas as pessoas que atravessavam a ponte para ir a Machamba e colocava barcos de patrulha no mar para impedir tambem a pesca. Os que iam para o continente ou para o mar eram mortos e se fossem criancas viravam soldados. Mocambique tem na guerra entre Frelimo e Renamo um dos maiores contigentes de soldados mirins ja registrados.
Enquanto me contava sobre os anos de fome por consequencia disto tudo (a guerra foi dos 70 aos 90) sentia a profunda tristeza daquele mocambicano que era muito jovem nesta epoca e pegou tambem nas armas depois para lutar com a Frelimo, como a maioria dos que fizeram parte da guerra por vontade propria.

Sobre Pemba nao posso ainda dizer muito visto que pelo cansaco do dia apenas sai para a noite para uma caminhada no mar e uma sopa de hortalica em um restaurante chines ! que encontrei na cidade. A hospedagem é uma merda, fede muito.

Pemba, 24.02.2010 13:00

A viagem da ilha até Pemba foi um pouco dura mas cheguei cedo... As 5:00 um chapa pegou na porta da pensao e levou até Namialo (Mt70) onde o onibus (unico do dia) para Pemba ja havia passado. O tempo ameacava chuva mas felizmente nas 2 horas de espera em um cruzamento em meio ao nada nao choveu. Com muita sorte apos um pedido de cilio passou uma pick up e consegui uma carona com ar condicionado até Pemba, o onibus custaria Mt 200

Chegando no lugar que pensei fosse uma boa acomodacao (Pemba Busch Dive) percebi que era muito no meio do mato e nao havia comido nada ainda, dei sorte mais uma vez e o motorista me levou ate a cidade. Chegando a cidade uma caminhada debaixo de sol escaldante com as malas me levou até a pensao maritimo que aparecia como hospedagem mais barata no guia Bradt (excelente) mas estava fechada por falta de cliente.

Uma carona novamente ate o centro e chego na pensao Baia (500mt) fétida, mas aí fico pelo peso das malas e falta de opcao com preco baixo. O hotel Cabo Delgado parece mais razoavel (Mt 800) e agora almoco no Pemba Take Away que serve boa comida por volta de Mt 100

Ilha de Mocambique, 24.02.2010 22:00

Comprei lagostas a noite por um preco ridiculo e cozinhei na cozinha da pensao... ficou coisa de loco.

Ilha de Mocambique, 23.02.2010 17:00

A ilha de Mocambique é ainda mais interessante do que parecia pela noite, durante o dia apesar da chuva que atrapalhou um pouco, caminhei pelas ruas da ilha que lembra mesmo Parati, inclusive pelo cheiro... tirei muitas fotos principalmente das criancas que mais acostumadas com visitantes de fora pediam para serem fotografadas.

O ambiente na ilha é bom e de maneira geral as pessoas estao mais acostumadas com visitantes de fora uma vez que a ilha tem um passado muito diverso já que foi importante ponto da ocupacao arabe e posteriormente capital do imperio portugues na regiao de Mocambique... a influencia hindu tambem é grande. Comprei duas moedas antigas do imperio portugues encontradas enterrada em uma machamba e em um navio afundado na costa.

Os casaroes da ilha estao em estado de conservacao nada bom e apesar de ser patrimonio mundial tombado pela UNESCO a maioria esta desfigurado, porem a beleza da ilha combina com os casaroes e suas ruinas em alguns lugares é possivel claramente imaginar o tempo em que a ilha foi um dos maiores pontos do comercio de serers humanos em toda a Africa. Apesar da arquitetura portuguesa a maior heranca cultural é árabe e a grande maioria da populacao é muculmana e frequenta alguma das mesquitas espalhadas pela ilha. As igrejas catolicas sao pequenas e pela maioria muculmana estao em mau estado de conservacao... a fortaleza de Sao Sebastiao é imponente e circundada pelo maravilhoso Indico tem uma beleza quase unica... unica para mim seria se nao conhecesse aquela em Natal que é igualmente imponente em lugar parecido e circundada pelas nao menos maravilhosas aguas do nordeste.

Amanha saio da ilha pelas 5:00 e vou até Namialo de onde sai o transporte para Pemba, apenas um dia na ilha é suficiente pois apesar de linda ela tem apenas 3.5km por 600m de largura.

Ilha de Mocambique, 23.02.2010 9:00

O ponto de saida de onibus em Nampula lembrava aquele em Masvingo no Zimbabwe, completamente baguncado e com onibus pre historicos cheios de ´estilo´. Chegar na ´rodoviaria´ foi um pouco dificil pela longa distancia caminhada com as malas nas costas, mais ou menos uns 5km onde nao havia chapa.

Enquanto esperava o onibus encher cometi o mesmo erro de Masvingo e sai para tirar algumas fotos... percebendo que o ambiente estava um pouco hostil mas arriscando um pouco ate que um policial se aproximou com sua AK-47 devidamente pendurada no braco... me chamou, aquela historinha de sempre de passaporte e tal, como estava sem passaporte vou ao onibus buscar e aproveito para deixar a camera. Me dirijo aos policiais que me levam para conversar com o chefe. O chefe esta dentro de um onibus carcaca que com certeza nao sai dali, sentado no fundo contando dinheiro. O policial explica que eu estava tirando fotos e comeca o bla bla bla, explico para ele que moro em Mocambique e sei que nao preciso de autorizacao para fotografar... ficamos na lenga lenga por uns 30 minutos com todos eles tentando me extorquir algum dinheiro mas percebem que eu sei o que estava falando e me deixam ir.. depois o chefe de policia veio me pedir um refresco e comprei uma coca cola para ele.

Voltando para o onibus alguns camaradas que neste meio tempo me avisam de um sujeito que era ladrao ´perigoso´ o individuo bebado vem em minha direcao e comeca a falar merda racista, tenta por a mao no meu bolso mas gentilmente eu afasto e entro no microonibus.
Nota, nunca deixar as malas no carrinho que vai fora do microonibus, é preocupacao para a viagem toda, a cada parada em que os vendedores de tudo atacam o onibus se perde o sossego.
No caminho uma mulher com algum problema de saude grave entra no onibus com os olhos virados sem conseguir ficar em pe, creio que era uma malaria forte da porra... depois de poucas horas chegamos a ilha de Mocambique, o transporte custou Mt 100 e chegando a ponte que liga o continente a ilha é preciso trocar por um carro menor pois a ponte esta capenga, este carro nao precisa pagar.

A ilha a noite parece linda, como uma cidade portuguesa do sec XVII, casaroes altos e as ruas estreitas lembrando um pouco Parati. O pessoal do carro que atravessou a ponte foi gente boa e me deixou na pensao Casa Branca (Mt 500) muito boa e barata, um casarao com banheiros limpos e bem conservado. Hoje pela manha havia cafe e uma pequena olhada mostra que a ilha é mesmo muito linda, agora vou conhece-la.

Imigracao em Nampula, 22.02.2010 11:00

Nampula nao tem muito o que ser visto. Uma cidade como Chimoio com ambiente ja um pouco hostil ao Muzungo (sempre ouvi que quanto mais ao norte pior) mas relativamente pacifica permitindo uma caminhada a noite. Encontro uma pensao xexelenta e sem agua constantemente chamada Parque (Mt 500) e nela passei o fim de semana esperando a segunda feira para mais uma vez extender meu visto em Mocambique.

Durante estes dias andei pela cidade, comi em alguns restaurantes baratos torrando o pouco budget de viagem conseguido junto a ADPP. O museu nacional de etnologia é o unico ponto a mencionar com alguns artigos pre historicos... o mercado muito pequeno para o tamanho da cidade mas ja é possivel encontrar os primeiros artigos Swahili. Hoje pela manha levantei e vim diretamente a imigracao onde estou agora, como sempre esperando a boa vontade de um funcionario publico mocambicano que nao chega nunca... ainda hoje um chapa deve levar ate a ilha de Mocambique.

Algum lugar entre Beira e Nampula, 19.02.2010 17:00

Ola,

Como agora o tempo de uso de internet é muito escasso e vou escrevendo enquanto viajo, peco desculpas pelos erros de portugues que aparecam.

Os ultimos dias em Chimoio foram um pouco foda, já tinha me despedido de todo mundo, despedida na escolinha, chorado com o Adao e o Capitao que foram me visitar, mas nao conseguia ir embora. De tanto insistir consegui que o Dinis (dir. financeiro) me desse o dinheiro par ir ao norte porém quando descobri que seria 3x o valor pedido para levar os livros para a biblioteca em Bilibiza tive a certeza que ele me pediria a verba de viagem de volta. A conversa com o Ventura (diretor) foi um teste de nervos e nao podia mais olhar para o bigodinho daquele incompetente.

Na madrugada sai após uma bebedeira com alguns romenos que haviam chegado naquele dia... peguei um taxi e cheguei a cidade. Na cidade ainda de madrugada peguei um chapa surreal com um gordao de camisa florida que ia narrando a viagem no microfone instalado na van sem lembrar que seu principal papel era ser motorista... ´senhores passageiros, bem vindos a Dondo´, ´Opa, este buraco era grande´, ´vamos comecar o pagamento senhores´ e entao ele ia recebendo o dinheiro com uma mao e segurando o microfone com a outra... a mao no volante ? nao sei... so faltou ele dizer ´srs passageiros obrigados por arriscarem suas vidas conosco!´

Cheguei a Beira ainda muito cedo, longa espera por um quarto vago na pensao Sofala, a mais barata de Beira (Mt 500) e finalmente consegui descansar um pouco, estava um pouco zumbi pela noite de despedida com os romenos, Uma breve dormida e vou até a cidade para vender meu lap top e meu gameboy e consigo fazer negocio por um bom preco com alguns paquistaneses. Um pouco de sono pela noite e na madrugada pego o onibus do TCO (Mt 1.600), unico transporte que pode ser chamado de transporte em Mocambique ja que e um onibus grande, confortavel com ar condicionado. Estou no onibus agora e a viagem deve levar 17 hs.