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Meu nome é Thiago Caro e em Novembro de 2008 decretei uma moratória a mim mesmo.
Morei um tempo bom em Michigan e viajei boa parte dos EUA em treinamento para o trabalho voluntário relacionado a educação que agora faço em Moçambique. Em Fevereiro de 2010 irei de Moçambique a Israel em uma viajem cruzando por terra, em transporte local, Tanzania, Kenya, Ethiopia, Sudão e Egito. Escrevo este blog como maneira de compartilhar minhas experiências e bobagens com todo aquele que ache interessante e fale português.

thiago_caro@hotmail.com

Monday, March 30, 2009

Mais uma nova profissão...

Ola
Neste final de semana aconteceu uma ação comunitária do IICD.

Fomos a West Chicago no bairro de Austin fazer uma limpeza nas praças e ruas da comunidade... na verdade era realmente um lugar pobre e relativamente hostil... vimos algumas brigas na rua no sábado, enquanto tentavamos mobilizar a população local fazendo um door to door... acidente de carro .... e muita sujeira nas ruas.

A mobilização da população local não teve o resultado esperado... na verdade bem aquém do esperado... acho que tinham uns 5 voluntários. Mas tudo bem, sábado para domingo dormimos uns 10 aqui do IICD na casa do Eric, o camarada pintor que me hospedou umas semanas atrás, tinha que mostrar aquela casa pra rapazeada e o Eric também gosta de receber gente então juntamos o útil ao agradável...

Domingão acordamos e fomos lá para o local da limpeza... um monte de gente do Teachers Group estava lá... troquei bastante idéia com um angolano (putz acho que o nome dele é Lucas) que trabalhou na Namíbia por uns anos e hoje tá aqui trabalhando como escravo no Clothes Collection... tinha um pessoal da GAIA, do Planet Aid, do USA Gain e do IICD... Santiago, Pedro e Kabrielle fizeram um bom trabalho conseguindo doação de comida pra todo esse batalhão... um monte de pizza, pães, refrigerante e tudo mais... doação de comida aqui como se percebe é padrão para alimentação...

Pela 1:00 p.m fomos para o local da batalha e eu esperando que iamos passar a tarde lá fazendo aquele trampo... beleza... tava frio... esfriando muito, no domingo nevou de novo aqui, aquela neve bucólica, mas não importa quando neva é porque tá frio (bã) ... no final passamos lá umas 2 horas recolhendo aquela lixaiada e fomos embora... um final de semana de preparação para 2 horas de ação... esse esquema de ONG as vezes consegue ser de uma ineficiência assustadora... mas tá valendo, o frio já estava incomodando.

Ficou uma sensação de que a intenção era fazer um video bonito ( que hoje eu vi uma parte e o Pedro mandou bem ) e passar para a posteridade, algo do tipo: Olha como a gente atua aqui nos EUA...

No fim do dia uma senhora do TG também, que eu também não lembro o nome, arrumou um entretenimento para nós... um tipo de ''missa folclórica'' ou algo assim, em uma igreja batista lá mesmo em West Chicago. Várias apresentações de dança, algumas realmente bonitas... e aquele coral... humm aquele coral tradicional de igreja batista por aqui, com algumas negras de 200kg que poderiam facilmente levar a carreira do Blues... algumas levam. Foi muito bonito... alguns momentos de arrepiar mesmo...

Uma coisa que não tive como ignorar foi o tédio dos TGs... eles realmente não tem nada a ver com religião, alguns são ''pessoas normais'' a maioria deles professores ou trabalhadores do clothes collection ou algo assim. Mas aqueles que percebe-se são realmente TGs, abrem mão da sua vida completamente em troca desta vida comunitária que por vezes me parece um tanto estranha, esses tem uma certa dificuldade de ver a religião. Ouvi alguns comentários que não gosto por uma simples questão de respeito, sei lá... Não sou religioso de nada, realmente não posso, ou quero dizer que sigo preceitos desta ou aquela, mas tento respeitar bastante, principalmente quando estou em algum ambiente de culto, missa ou seja lá o que for, já que me interesso em conhecer. Percebo que por parte dos TGs há um grande desprezo em relação a esta parte da vida, a espiritualidade. São muito apegados a realidade e tentam agir muito nela, talvez isso faça com que somente a realidade crua seja percebida. Sei lá. Conversando com uma moça (essa eu lembro o nome mas não digo!) que trabalha no USA Gain e é uma dessas ''pessoas normais'' no TG fiquei um pouco assustado até na verdade, com algo que já sabia. Ela tem 2 filhos na escola, ambos por volta dos 12 anos, cria eles sozinha, deram um ultimato a ela, para que va trabalhar no Malawi por 5 anos ou então terá que deixar o TG e perder aquilo que importa para ela, o emprego... Acontece que indo ao Malawi trabalhar ela deixa de pagar sua casa nos EUA (o cidadão aqui é um débito ambulante) e aí ? como fica a mulecada? Pelo que ela disse, recebe-se um foda-se e é isso aí...
Ah sim, ela frequenta a igreja, batista e vê sentido nisto, talvez esteja no lugar errado.

Um grande abraço

Thursday, March 26, 2009

Truck Driver in U.S

Ola,

Yeah baby, truck driver!
Essa semana fui inicializado no ritual de clothes collection...


Uma das fontes de renda para a sobrevivência do IICD é a coleta e revenda de roupas usadas, um mercado muito vasto aqui em terras gringas já que o consumismo leva a uma troca de roupas absurda... Acabando uma estação, os estadounidenses enviam tudo para a doação e compram tudo novo na próxima, a roda tem que girar... por aqui também se encontram muitas grandes lojas que revendem essas roupas... eu chamaria de brechózões, mas ao contrário de nossos valiosos brechós no Brasil, os daqui só tem roupas novas... na verdade usadas, mas parecem novas... Aquelas que estão mais cansadinhas são recicladas, sim, reciclagem de roupas.


Acontece que o GAIA Movement, uma ONG que tem projetos em função de desenvolvimento sustentável, preservação do meio ambiente e faz parte do Teachers Group, assim como o IICD, também tem como fonte de renda a coleta de roupas e parece não ter motoristas de caminhão o suficiente, pois frequentemente os voluntários se aventuram nesse trabalho, um tanto quanto cansativo, em troca de uma guita para o fundraising. Essa semana foi a primeira que nosso grupo foi habilitado a fazer o clothes collection, e advinha quem foi dirigir caminhão em Chicago!


Pois bem, terça feira 6:00 vou eu e o KBS, um coreano que é ativo e bom motorista, para Chicago com nossa boa e velha Van branca... chegando lá nos deparamos com o grande caminhão que seria nosso companheiro de estrada naquele e no próximo dia... já sabia que o caminhão era grande, mas a primeira vista ele foi um tanto quanto assustador. Pegamos a chave e pé na estrada, puta merda! como é grande, não consigo identificar o final dele pelo espelho... o fato que eu não sou habilitado a dirigir caminhão no Brasil é um pequeno detalhe por aqui... quando a Mette me ofereceu ir lá dirigir o caminhão, a primeira coisa que falei foi "Mette você sabe que eu não sou habilitado" e ela me respondeu algo assim "They don´t know how to read in portuguese... this is life" muuuuito responsável... mais ainda eu, que fui. Na verdade é um contracenso, por que aqui, no país da segurança, quando você é habilitado para dirigir carro pode dirigir caminhão também, só precisa de habilitação especial para dirigir aqueles caminhões que de tão grande parecem trens, ou então ônibus escolar, que é algo realmente sagrado por aqui. Quando o ônibus escolar encosta, você precisa parar o carro, mesmo que esteja em uma via e do lado oposto... justo. Tudo isso para dizer que não estava teoricamente fora da lei, pois posso dirigir carro aqui com minha habilitação em português, fato que não exclui minha total inexperiência em dirigir caminhões.


Pois bem, primeira prova, sair de Chicago com o caminhão, o trânsito de Chicago é loco. Consigo pegar a estrada e me sinto dirigindo algo realmente grande, preciso tomar cuidado com cada movimento, pois começo a virar o caminhão e ele só termina alguns bons segundos depois. Na verdade após uns 20 minutos já estava dirigindo o bichão como se fosse um carro. O dia estava bonito e a viagem foi relativamente sossegada até Merriville, primeira parada para coleta de roupas nas caixas que ficam estrategicamente colocadas em malls, mercados, gas stations e etc... E como tinha roupa meu Deus, ao final do dia, colocamos no caminhão 6.000 pounds (não sei quanto é em kilos, essas medidas daqui são uma merda)... muita roupa, trabalho braçal mesmo... por incrível que pareça, durante todo o dia nenhum risco de acidente!!! impressionante eu e KBS pareciamos ter nascidos naquela boléia... na verdade em dado momento quando estavamos na downtown de Fort Wayne, um senhor, desses estadounidenses que de longe você olha e diz: é um cretino! apareceu na janela enquanto o KBS dirigia e estávamos parados em um semáforo, deu umas batidas na janela e gritou algo do tipo "Good job asshole" Eu não sei o que aconteceu, acho que o KBS fechou ele ou algo assim, mas nada demais, acho que o rapaz só queria nos dar mais um exemplo de estupidez humana. A noite nos perdemos, e nos perdemos e nos perdemos mais um pouco até que enfim achamos nosso hotel. No dia seguinte deixamos todas as roupas coletadas em uma mega loja numa cidade no caminho e batemos um rango num restaurante chinês típico... entenda-se sujo... mas tava bom na verdade... bem típico mesmo de restaurante chinês, sujo mas gostoso.


Enfim, em certos momentos pensava... meu Deus, se a um ano atrás alguém me dissesse... ano que vem, você vai estar nos E.U.A, dirigindo um puta caminhão, coletando roupa usada, com um coreano do lado, se preparando para ir trabalhar na Africa, eu diria ao indivíduo... para de beber, você tá mal...

Cá estou eu...

Deixo um vídeo e uma foto

Um grande abraço


Sunday, March 22, 2009

1 x 0

Ola,

Faz um certo tempo que não escrevo... na verdade, está tudo um tanto quanto corrido. A correria por aqui é bem diferente da qual eu estava acostumado, é bem mais saudável, mas é correria também.
Hoje é domingo, um dia de sol... sossegado, estou aqui sentado numa cadeirinha de Juta, com os raios de sol entrando pelo vidro, ouvindo um Bob Marley do comecinho.... algumas flores em volta...

Em meu último post estava ainda viajando fazendo fundraising... pois é , voltamos, o resultado foi excelente, passamos nosso goal, e arrecadamos ao total uns USD 15.000,00. bastante para o primeiro. Meu grupo passou os últimos 3 dias em um subúrbio de Chicago, bem em meio a comunidade negra, muito numerosa na cidade, esses 3 dias foram dos melhores... As pessoas muito simpáticas por lá... ninguém é obrigado a doar nada, mas estava acostumado com caras de nojo e desprezo de muita gente que passou por mim nessas duas semanas... em Evergreen (a comunidade a qual me refiro) foi bem diferente. Muita gente interessada, bem humorada.... proseadores de primeira... nosso resultado lá foi bom e fez bem para nosso humor também. Esse trabalho de conseguir doações não é nada fácil...o corpo fica cansado, mas a cabeça fica mais, um pouco de reconhecimento e bom humor ao final nos caiu muito bem.

No último dia, domingo passado, estava acontecendo a parada de St Patricks em Chicago, mais ou menos 500 mil pessoas presentes... a comunidade irlandesa lá é muito grande, em frente a muitas casas você vê a bandeira estadounidense (normal) e a irlandesa juntas, que seja... pensamos: vamos lá tentar arrumar uma guita... Vamos lá, eu e o Nam, o coreano amorfo que me acompanhou nessa empreitada... paramos com nosso cartaz e nossos livros, acompanhados da caixinha para o dinheiro...muita gente passava, 80% bêbados. No começo fiquei meio estudando o que falar,meio tímido... após 5 minutos já estava gritando... algo do tipo “ We are volunteers, trying to save the world, going to Africa to work with children... we want to drink, but we can´t, we have to keep going… support this good cause, it´s not easy to see you guys drinking and still ask for money” algo assim… bem ridículo mesmo, essa era a intenção… a festa é de uma bizarrisse nunca vista, anões vestidos de duende giram gigantes rodas e entram nelas no meio do processo (habilidosos) ... crianças tocam violinos em cima de antigos carros de polícia... e muito mais... que seja. O meu amigo coreano não sabia onde enfiar a cara, se escondia atrás do nosso border.... ou de alguma outra maneira... enquanto isso eu lá gritando ... resultado, fiz muitos amigos... sempre algum doido parava, (desses 95% bebados) e falava algo do tipo...” putz cara blup! quero um dia fazer festa blup! junto contigo” ou “ cara, legaal blup! isso ... puz que coisa, o mundo ... melhorar, blup!” meio que assim... me diverti tenho que dizer... algumas meninas lindas paravam para conversar um minutinho... com sorrisos fáceis, esse negócio de voluntário indo pra África atrai.. heheh. Mas tudo bem, dessa parada de St Patricks tirei algumas boas histórias... e a sensação de que realmente perdi toda a vergonnha que um dia tive.... dinheiro na verdade foi uma merreca, uns USD 20,00 em 2 horas...

Voltamos a Michigan onde estou agora... na segunda feira a reunião foi meio forte, alguns problemas que um dos grupos teve relativos a acomodação cancelada (passaram umas 3 noites no carro) e alguns que se apoiaram sobre o trabalho dos outros para meio que se esquiviar vieram a tona... ficamos uma tarde toda nessa, não é fácil para ninguém pedir dinheiro para a Africa aqui nos EUA... eu nunca me imaginei nessa situação, mas aqui estou e estou tentando fazer o meu melhor, assim como outros de nosso grupo de 10 voluntários... mas tem algumas pessoas que ainda não entenderam isso e acham que se apoiar em cima dos outros é uma boa estratégia... que seja estamos ai aparando arestas... sempre bom uma discussão para melhorar o processo e para que fique bem claro que levar marmanjo nas costas pesa.

Durante a semana começamos a discutir a nova rota de fundraising e planejamos... vamos cruzar essa bagaça... de Michigan até Las Vegas... parando em todos os estados no caminho... aproximadamente 6.000 milhas (uns 10.000 km) em 3 semanas... bem bacana, em Las Vegas a gente encontra aquele cara que acabou de ganhar uns milhões e tá a fim de fazer um ato de bondade .... e pronto, Africa vamos nós!!! A idéia foi brochada alguns dias depois quando apresentamos a tal para a Trine, nossa headmaster... ela gostou, falou que a gente é um dos melhores e mais loucos grupos que já passaram por aqui, mas no final recusou a proposta... as Rocky Mountains, a cadeia rochosa que cruza a américa do norte desde o Alaska até o Novo México fuderam o plano, e na verdade elas são realmente perigosas, pesquisando com os DIs (Development Instructors, voluntários como eu) do Instituto da Califórinia ficamos sabendo de um pessoal que em 98 fez essa viagem loca e virou o carro numa montanha... resultado, todo mundo de molho no hospital por alguns meses... como ninguém quer ir para o Hospital, muito menos nos EUA desistimos, por hora deste plano.

Plano B, vamos para o sul... saímos aqui de Michigan extremo norte e vamos até Miami Beach, extremo sul, 3 semanas, 3 dias de descanso... paramos em todos os estados no caminho, ou na ida ou volta.... incluindo Kentucky, Tennessee, Missipi, Alabama, Florida, Georgia, South e North Carolina, Virginia e West Virginia... nada mal também, nos 3 dias de folga talvez 2 sejam em Miami Beach e um no Busch Gardens em Tampa Bay.... nada mal. Devemos sair daqui a 2 semanas, até lá algumas boas ações comunitárias por aqui em Detroit e Chicago, alguns cursos em um hospital em Lansing e muitos estudos.

Acho que por hora é isso, o tempo por aqui melhorou muito... impressionante o que são estações bem definidas... aí no Brasil não conhecemos isso. Cheguei aqui a uma temperatura de -20C ... certos dias a mesma chegou a -27C.... tudo, mas tudo mesmo, branco... de doer a vista e congelar a mucosa nasal (ranho ou catota mesmo) o dia com 7 horas ....
Agora a temperatura já chegou a + 7C, o dia é muito longo, amanhece as 6:00a.m e anoitece as 8:00 p.m.o dobro do que era.... as cores aparecem, vermelho predomina mas há alguns tons de verde também.... tomamos café no centro de nosso prédio, uma área aberta muito gostosa, que a umas 3 semanas atrás era um grande depósito de neve.
Deixo algumas fotos das pessoas que me hospedaram nessas ultimas semanas, e de algumas coisas que vi nesses dias também.

Um grande abraço!


Ops, as fotos posto mais tarde, tô indo pescar no lago...

P.S - Chamei o post de 1x0 hoje pela manhã.... acabo de saber que hoje meu querido coringão passou por cima daquele time que faz clássico com a Portuguesa Santista... o placar 1x0... ahh coringão estamos sempre conectados! ehheh



Friday, March 13, 2009

Chicago... Padre? Pintor?? BOPE???

Olá

Desde a primeira vez que vim para cá gostei de Chicago... a cidade em si (Downtown) é relativamente pequena, grandes e modernos edifícios, casas antigas em ruas muito apertadas... os subúrbios são muitos, muitas pequenas cidades que eu chamaria de bairros cercam Chicago, e tem vida própria bem definida.... algumas concentram latinos... muitas concentram negros.

No domingo fomos a casa do Gary em Champaign, já que ele tinha sido tão gentil na primeira vez, abusamos um pouquinho e voltamos lá para mais uma pernoitada no meio do caminho... de manhã ele tinha que ir trabalhar e nós estávamos no nosso "dia de folga" já que não tinhamos lugar para ir e estavamos exaustos... ele nos deixou com a chave da casa dele e pediu para que deixássemos em um escritório quando fossemos embora... pela manhã me acordou para dar a chave, tomamos um café e jogamos uma partida de xadrez conversando um pouco, não pudemos terminar, ele foi trabalhar, mas antes quis nos doar USD 50,00 veja só... realmente muito boa pessoa. Tentei dizer que não, já tinha nos ajudado bastante, mas não foi possível.

Seguindo para Chicago, uma tempestade de vento absurda não cessava nem com reza brava... em alguns momentos chegava a ser assustadora... muito forte, a van que não é a mais estável do mundo, longe disso, parecia querer criar asas... mas chegamos... chegamos a igreja em Chicago onde dormiriamos aquela noite... as missas eram rezadas em portugues, italiano, espanhol e ingles... lá assisti com um pessoal, incluindo padres mexicanos, ao final do Corinthians x Palmeiras que acontecia, a tempo de ver o grande Ronaldo marcar seu primeiro gol pelo grandessissimo coringão! Nesse dia vi uma missa também, em espanhol, fazia muuuito tempo que não via uma...

Dia seguinte trabalho, essa parte é chata eu pulo! vou direto ao fim do dia.... viémos a casa do Eric onde estamos hospedados agora e ficamos até domingo quando voltamos ao IICD. A casa é coisdeloco... absurda... na verdade não é uma casa e sim um antigo edifício bem no centro de Chicago, porém o rapaz que vive de renda mora aqui sozinho... ou quase... explico.

Eric faz música e é pintor, mas tudo por Hobby... na verdade ele pinta muito bem, mas as melhores obras que tem aqui (e acredite, tem muitas) não são dele... ou ele comprou (tem uma do séc XV que algum pirata roubou, deve valer muito) ou foram pintadas por amigos.... Nesse prédio que ele mora há muitos quartos "vagos" que ele aluga ou empresta, para amigos pintores ... Djs... ou viajantes como nós aqui... esta semana por exemplo... já passaram por aqui por um pernoite ou mais: um australiano que só fala besteira e faz música para filmes de Hollywood... um Dj maluco que toca aqui em Chicago... uma artista plástica japonesa de um estilo pelo menos exótico... um cara estranho que faz música eletrônica e está aqui pirando agora... além do Drew que está morando aqui e acha que Andy Warhol é Deus... ??? Ambientes locos, quadros no teto, um lounge gigantesco.... pincéis... tintas... uma banheira suspensa, uma cozinha sem pia.... comida coreana... música de transe o tempo todo....
Essa acomodação é exótica

Um detalhe a parte nesses dias... as refeições.... ahhhh as refeições. O IICD nos dá a quantia exorbitante de USD 3,50 por dia para comer... breakfest, lunch, dinner!!! se o dinheiro for bem controlado, vc consegue comer um Mc Double no café, um Whopper Jr no almoço e outro Mc Double no jantar... ao fim de um mês você se transforma em uma bola de sebo faminta.

Alternativa? Food Donation...

Como creio eu já disse, meu orgulho ficou aí no Brasil, um dia recupero parte dele de volta... portanto agora sou bem cara de pau mesmo... ligo para os restaurantes, explico que posso dar redução de impostos pois somos sem fins lucrativos e pergunto se é possível a doação de uma refeição para três pobres voluntários.... resultado, economizei os 3,50 todos os dias, com isso paguei parte da camera nova que comprei (minhas fotos vão melhorar)... uma Fuji loca, paguei USD 200 numa mega promoção no WAL Mart, no Brasil R$ 1.800,00 e mandei um foda-se pro fast food desse povo... só ligo pra restaurante campeão... essa semana já comi Salmão, comida mexicana de primeira... de segunda também... italiano... e até um "americano" da fazenda que foi muito bom... mas o melhor foi hoje. Conversei durante a semana com o Walter, um brasileiro que tem uma churrascaria aqui em Chicago... hoje fui lá jantar com meus fellows volunteers. O restaurante chique até o osso (USD 80,00 por pessoa) o carioca gente boa, sentou com a gente e ficamos quase duas horas comendo uma carne fantástica (ele roubou o chef do fogo de chão daqui de Chicago) e conversando... as vezes ele levantava pra fazer as vezes com os clientes mas ficamos lá trocando idéia... um resuminho da história dele... era capitão do BOPE no Rio de Janeiro (todos os funcionários são brasileiros, alguns ilegais) pirou na batatinha tipo o capitão Nascimento e saiu correndo do BOPE, veio pra cá meio que fugido tanto da polícia quanto dos bandidos... comprou um caminhão de entregas na Califórnia... em um ano tinha 15.... hoje tem 36 churrascaria dessas (Churrasco Brasil).

Quanto mais penso que sou louco, mais percebo que não existe ninguém lá muito normal por aí.

Aquele abraço

Thursday, March 5, 2009

Afinal, nada é assim tão fácil

Olá,

Escrevo agora de Carbondale, South Illinois.

Nossa primeira semana de fundraising começou muito bem, nesses 4 dias que se passaram já é possível perceber que atingir o objetivo de USD 60.000,00 não é impossível, tampouco fácil.

Estou viajando com Ivana e Nam num gigante Ford Couch que faz nossa viagem confortável e custosa, já que gasta uma gasolina dos anos 50.

No primeiro dia viajamos umas 4 horas e dormimos em Champaign uma cidade relativamente grande bem no meio do estado de Illinois e no meio também de nossa primeira viagem, chegamos a casa de Gary, um estadounidense de uns 50 e poucos anos, professor de inglês que já trabalhou em uma cassetada de países, inclusive a China... o elemento é muito inteligente, dava aula de xadrez e também era motorista de ônibus escolar para relaxar. Ficamos lá na noite de domingo para segunda, quando seguimos aqui para Carbondale onde tivemos um dia de coleta de doações em frente ao Wal Mart. A segunda feira foi excelente, conseguimos arrecadar em 8 horas de trabalho 700,00 dólares... é muito dinheiro na verdade. Se coneguíssemos fazer todos os dias assim, terminaríamos o trabalho em muito pouco tempo, visto que nos dividimos em 3 grupos e o Goal de 60.000,00 é comum a todos. Mas já sabemos que é impossível, nos outros dias mantivemos uma média de USD 400,00 que ainda sim é muito boa... muito boa mesmo. Eu e Ivana nos surpreendemos com nossa força para fazer isso, na verdade ambos nunca se imaginaram fazendo isso na vida, mas esquecemos essa parte e nos entregamos bastante ao trabalho... essencial quando você está pedindo doação nos EUA para projetos na África, você precisa convencer as pessoas sobre o porque eles devem doar dinheiro para outa parte do mundo, logo eles os mais nacionalistas, diria até bairristas. Nam está assistindo a tudo, dos USD 1.500,00 que temos agora ele conseguiu uns 25,00, no começo estavamos complacentes com isso, do tipo deixa o menino pegar o jeito, o inglês dele não é bom (não que o meu seja excelente) mas já não estamos com tanta paciência assim.

Esses dias em Carbondale estamos passando na casa do Aaron, um estudante da Universidade de Illinois que está nos hospedando na sua casa. A universidade de Illinois é uma das mais caras por aqui, e ele paga a universidade, o aluguel e tudo mais com seu salário de pizzaiolo em uma loja da Quatro´s aqui em Carbondale... igualzinho a nós aí no Brasil não é mesmo... mas eles por aqui acham que o mundo está acabando... que a crise vai fazer deles um povo muito pobre e que eles já estão começando a sentir a pobreza extrema de perto... uma cabecinha tão minúscula quanto o nosso salário aí no Brasil... arrisco a dizer ainda menor.

Muita gente quando pedimos doação diz coisas do tipo... "vocês deviam ajudar as crianças americanas" ou "você acha que esta pobreza não existe nos EUA? Você deveria voltar para o seu pais" ... eu estou cagando e andando, deixando meu rastro para eles... teve um com roupa do exército que ficou fumando um cigarrinho do meu lado e quando terminou passou por mim esbarrando e disse "Help America, Fuck Africa" esse eu tive que responder, disse algo do tipo "Fuck you your stupid, go make war" ele se voltou para mim e quis discutir, provei por A+B que ser pobre nos EUA é diferente de ser pobre na Africa (Ok, não foi tão difícil assim) também mostrei de uma maneira gentil que ele é realmente ignorante e que para ele dirigir a pick up dele provavelmente alguém em algum lugar tá passando fome... como de certa maneira diz a teoria da escassez... ele não quis atirar em mim, ou coisa assim....foi embora por que não tinha mais o que dizer, senti uma ponta, talvez duas de humilhação na face dele, e tenho que confessar, fiquei feliz!
Mas nem todo mundo é tão estúpido assim, conheci também muita gente que para, conversa, se interessa, as vezes fico conversando com a mesma pessoa uns 15 minutos.. conheci um senhor que foi missionário no Zimbabwe, me contou boas histórias... alguns jovens também se interessam param e conversam... estou ficando bom em conseguir doação das estudantes heheh.... as vezes vc gasta o latim alguns minutos e consegue um dólar, as vezes 20... mas sim, há muita gente boa por aqui também, já estou conseguindo até pressentir pela cara da pessoa se ela vai ter algo bom a dizer ou não, se vai doar ou não... por exemplo, com os brancos de boné do exército e bigode eu nem converso mais... o mesmo com as senhoras gordas brancas.... essas não são poucas. Um detalhe que percebi, muito provavelmente pela má alimentação e o péssimo sistema de saúde que existe aqui (para quem não sabe, é pior do que no Brasil, se precisar da saúde pública aqui, morreu, a particular obviamente é muito boa e muito, muito cara) há muita, mas muita gente doente por aqui... andando com aparelhos para respirar artificialmente na mão, ou com parte do corpo amputada perceptivelmente por causa da gordura e colesterol... eles realmente são muito gordos, muito gordos, inativos... percebo que o estadounidense é um povo um tanto quanto infeliz, tem acesso a tudo que o dinheiro pode comprar com muita facilidade, veja o que disse sobre o Aaron, pizzaiolo, paga universidade, aluguel, contas e tem um Honda.... mas isso não é felicidade... são muito restritos e tem um padrão de alimentação e ignorância que chega a ser triste.

Voltando ao Aaron, o rapaz que está nos hospedando, agora estou vendo ele, deitado no sofá... bem gordinho, roncando.... muito gente boa o rapaz, muito hospitaleiro e divertido... ontem ele fez um salmão com um molho de mel e mostarda, com umas amêndoas que foi um orgasmo... fazia um tempo que não degustava tanto uma refeição... após a refeição compramos umas birras e ficamos tomando e falando besteira até meio que tarde... hoje foi um pouco difícil acordar mas lá estavamos nós, as 9 da manhã em Marrion conseguindo novas doações... essa vida voluntária por aqui não é nada fácil... mas compensa.

Um grande abraço!