Obrigado pela visita!

Meu nome é Thiago Caro e em Novembro de 2008 decretei uma moratória a mim mesmo.
Morei um tempo bom em Michigan e viajei boa parte dos EUA em treinamento para o trabalho voluntário relacionado a educação que agora faço em Moçambique. Em Fevereiro de 2010 irei de Moçambique a Israel em uma viajem cruzando por terra, em transporte local, Tanzania, Kenya, Ethiopia, Sudão e Egito. Escrevo este blog como maneira de compartilhar minhas experiências e bobagens com todo aquele que ache interessante e fale português.

thiago_caro@hotmail.com

Sunday, August 30, 2009

A Morte do plasmodium e outro ritmo de vida

Ola,

Morra protozoário de uma figa!!! Morra!

Depois de alguns dias de uma estranha dor de cabeça e cansaço corporal, me sinto bem novamente e creio que a medicação contra a malária tenha funcionado... no começo da próxima semana voltarei ao ‘laboratório’ para testar novamente (com seringa nova) se restam traços deste protozoário incoveniente em meu sangue.

A semana foi relativamente lenta para mim pois tinha que repouzar e ficar meio quieto, porém percebi que não foi tudo lento somente por minha vontade, o ritmo aqui é muito mais lento do que na Bahia, por exemplo... Os horários são algo bizarro, marca-se algo para as 15hrs porém as 17:30 começa a discutir se aquilo que era para ser feito as 15hrs deve ser realmente feito... lá pelas 19:00 chega-se a conclusão que ... não, melhor deixar como está pois pode ser que venha a se perder muito tempo fazendo aquilo... Isso não é exagero, funciona assim mesmo e as vezes um pouco pior... no dia que voltamos das olímpiadas das EPF por exemplo, o ônibus deveria partir as 16:00 porém pelas 19:30 começou a entrega de troféu! Pelas 21:00 o ônibus partiu… é o padrão.

A completa ignorância a horários marcados reflete na verdade uma falta de compromisso de muitos com aquilo que deveria ser levado a sério.... ontem por exemplo fui a inauguração de uma pequena biblioteca feita com a ajuda do Luís, um DI brasileiro aqui da EPF, em uma escolinha para crianças bem pequenas dentro da comunidade de Nhamatanda ... a escolinha é na verdade uma cabana um pouco maior, com algumas carteiras que o Fábio, meu companheiro de quarto italiano conseguiu para as crianças e um professor, o Inácio, que é uma dessas pessoas apaixonadas que não ganha um tostão e dá aula de tudo para a mulecada, consegue dinheiro para comida e tudo o mais... Ficamos lá dentro da escolinha, sentados na frente das crianças, junto ao quadro negro... eu os amigos já citados e o Rodrigo... falamos algumas coisas para as crianças até que chegam os representantes da comunidade, um pastor evangélico (vocês não imaginam quantas igrejas evangélicas existem por aqui... Record é um canal aberto e passa novelas da GLOBO!!!!!!!) e um senhor representante do bairro Nhamatanda... o estado deste senhor foi algo que me envergonhou profundamente, o ‘representante’ da comunidade estava bêbado, mas bem bêbado mesmo... falando nada com nada lá na frente das crianças.... olhávamos um para os outros incrédulos com aquilo, mas na verdade nem tão incrédulos assim pois infelizmente isso é visto com certa normalidade.

Ao chegar na EPF as duas primeiras semanas são para ambientação e para se adequar a realidade daqui, que é bem particular... conhecer as comunidades, escolas, cidades e etc... porém me cansa um pouco ficar olhando e portanto adiantei meu processo um pouco com o Bobby estes dias para já começar a fazer alguma coisa de verdade... como estava me comunicando bastante com ele antes de chegar aqui pudemos definir em linhas gerais o que eu vou fazer e aonde... agora na segunda feira começaremos a definir horários (já que nem eu, nem ele somos moçambicanos) e tudo o mais...

Na escola EPF que prepara os professores que vão para as escolas de ensino médio (nome brasileiro) vou dar aulas de estatística básica para os professores dos professores, já que estes nunca tiveram aulas de Estatística, porém vivem colhendo dados para que as mesmas sejam feitas... recebem os resultados e nem olham direito para eles... para eles também vou montar um curso curto de introdução a Economia.

Na escola formigas do futuro que também é da Humana, porém para crianças orfãs até a classe 7 que chegam a ter até 17 anos, vou dar aulas de ciências sociais e esta na verdade é uma das funções que me deixa mais empolgado... conversando com a Doca, que é diretora da escolinha, percebi que posso ter uma grande liberdade de assuntos e métodos na aula, mesmo por que não há um programa de aulas seguido a risca, algo como o horário moçambicano... minha idéia é não fazer eles ficarem copiando aulas, ou decorando nome de continente ou coisa assim... vou conseguir um globo terrestre, fazer um sistema solar com alguma coisa que for adequada ainda não definida e mais algumas idéias que vão surgindo... Aqui irei passar apenas alguns meses, depois vou embora... portanto creio que não adianta tentar ensinar nada mais a fundo desejando que eles aprendam sobre colonização por exemplo... porém neste curto tempo talvez possa instigar que eles busquem mais para a frente saber mais sobre coisas que não fazem parte apenas do dia a dia... daquilo que eles vêem... da machamba (plantação) ou o que seja... que saibam que há lugares muito diferentes e que ao olhar para o céu eles não estão vendo muita coisa que lá está. Com as crianças, vou seguir com o projeto de geração de renda que o Fábio começou... há um forno, no qual os mais velhos fazem pães que são consumidos pelas crianças e futuramente a idéia é faze-los de folha de moringa (uma planta que possui uma quantidade de vitaminas que não imaginava existisse em apenas uma fonte) e vender os mesmos a comunidade, gerando alguma renda.

A Humana possui oficinas pedagógicas em escolas do governo por todo o país, nestas oficinas que possuem sempre algum computador, são dados cursos que ajudem as pessoas locais a gerar alguma renda e administrar esta renda gerada... Algumas oficinas estão na província de Manica (estado, onde está Chimoio) e vou viajar para estas oficinas dando cursos de 3 ou 4 dias sobre hardware de computadores... quando estive em uma das oficinas em Sussundenga, dos 4 computadores, 3 estavam com problemas de fácil resolução que poderiam ser liquidados caso alguém próximo tivesse algum conhecimento, portanto estas aulas tem como objetivo também deixar uma pessoa como responsável por estas pequenas manutenções em todas as oficinas que for.

Com certeza vou me frustrar com várias coisas pela frente, sei muito bem que partindo do ponto em que eu defino com o Bobby o que vou fazer, até o ponto em que tudo seja realmente feito há muito tempo... e o horário é moçambicano, porém tentemos não é.

Espero também que o sr Anopheles leve seus plasmodium para bem longe, por que as pessoas tem malária aqui na frequência de gripe e a cada malária uma grande quantidade de energia tem que ser recuperada e um bom tempo é perdido.

Aquele abraço

P.S – Mais algumas fotos







Wednesday, August 26, 2009

Boas e más

Ola,

Ontem fui a Sussundanga com o Rodrigo para conhecer uma oficina pedagógica e algumas escolas da região... escolas de barro, com 3 ou 4 alunos por carteira e uma merenda que se resumia a massa de milho... a mesma cena que tenho visto sempre por aqui, crianças magras, escolas miseráveis, merenda de massa de alguma coisa, nada de água, cozinha a céu aberto, ensino deplorável. Teoricamente ao chegar lá teríamos um homem da Humana que nos acompanharia para alguns lugares nesta fase de ambientação que estamos passando, porém como a grande maioria das coisas que a humana planeja, não havia planejamento algum, ficamos relativamente inúteis por um bom tempo.

Ainda durante a manhã houve a encenação de uma peça que os alunos estavam ensaiando a um bom tempo em uma oficina pedagógica, o tema, crianças órfãs que não tinham como ir a uma escola e mudar um pouco sua realidade... foi muito boa dadas todas as limitações que são passíveis de imaginação... a peça teve que ser interrompida pela metade pois começaram muito tarde e as crianças deveriam voltar as aulas da manhã, como sempre muuuuuito planejado e estruturado, pude sentir a frustração, estava legal mesmo, muitas, mas muitas crianças assistindo... tudo bem.

Após isso eu e Rodrigo fomos a biblioteca para conhecer um pouco do que eles lêem e tentar passar um tempo... o Rodrigo achou um livro que o título era algo do tipo ‘a culpa é desta tal liberdade’... eu peguei um de história que tinha mais erros e tendências do que jamais vi... porra deixa os livros... na mesma biblioteca chega um rapaz de um programa do governo chamado geração biz... que busca treinar pessoas das comunidades para atuarem como ativistas informando a comunidade sobre as epidemias e prevenção de doenças... meu Deus, o entrevistador estava passando por apuros... as pessoas que chegavam se candidatando (voluntariamente) á função, mal sabiam falar direito... ele tinha que recrutar 35, pelo que vi passou por grandes dificuldades...

Mais a tarde fui encontrando algo para fazer... na oficina pedagógica 4 computadores proviam toda a informática existente num raio de não sei quantos kilometros... dos 4, 1 não funcionava e 2 tinham sérios problemas de comportamento... deixei eles funcionando e me senti um pouco útil... passando o tempo, o professor que encenou a peça das crianças me perguntou se seria possível que eles encenassem novamente para que eu filmasse e eles enviassem a mesma a não sei qual companhia de Maputo, tentando expandir um pouco o horizonte, disse: claro! Aí eles encenaram a peça inteira e a filmagem ficou boa... também tirei bastante fotos e espero que eles tenham algum êxito... pelo menos pude fazer algo até o final do dia...

Hoje pela manhã acordei estranho... ontem o Fabio, meu companheiro de quarto foi ao médico pois estava sem voz, com dores de cabeça, tosse... resultado: Malária.... hoje minha vez... dor de cabeça forte, tosse, coriza, cansaço... na verdade parecia que algo andava dentro de mim... e andava mesmo... o tal do Plasmodium adentrou a meu ser (olha que romântico) em alguma destas noites que se passou...

O fato de que vários de meus companheiros por aqui tenham me dito que o tal remédio para a malária é um placebo, não fez com que eu não utilizasse o mesmo, estava tomando ele certinho, como não costumo fazer com remédios... mas, esta merda é um placebo mesmo e não serve para nada, portanto hoje joguei todos fora... vale a dica para meus amigos voluntários que logo estarão aqui... nem pega o remédio por que só tem efeito colateral (o Rodrigo passou malzasso) ocupa lugar na mala e não serve para nada... talvez para que se justifique mais alguma despesa no IICD. Enfim...

Fui a clínica aqui perto e pedi para que fizessem o teste da malária... pedi para que fosse feito aquele que tira o sangue da veia mesmo, por que funciona melhor e tal... o que fura o dedo apenas as vezes da negativo, mas a verdade é positivo... melhor clínica da cidade... vou reproduzir meu diálogo com a enfermeira...

T – Olá, pode fazer o teste com a seringa por favor
E – Por que ?
T – Porque aquele do dedo as vezes não funciona...
E – Mas o sangue não é o mesmo?
T – Sim, mas sei de pessoas que fizeram com o dedo e deu negativo... fizeram com a seringa e deu positivo...
E – Ok, mas o problema é que as seringas acabaram de manhã (!!!) mas eu tenho uma aqui que não sei se foi usada (aberta)
T – *¨&%## você tá maluca!!!!!!!!!! Seringa usada...!!!!! põe a luva e tira do meu dedo mesmo....

E fiquei perseguindo ela para me certificar que pelo menos o do dedo seria novo....

É isso aí... tiro a preocupação daqueles que porventura venham a se preocupar, pois a malária deve ser tratada com seriedade e é assim que estou tratando... descobri logo no começo o que tira muitos riscos da doença... usualmente as pessoas por aqui morrem ou ficam com sequelas por causa da doença por que não tem acesso a médico e só vão procurar alguma ajuda de verdade quando a doença já avançou bastante... bastante mesmo... fico alguns dias por aqui de molho, o que atrasa um pouco meus planos mas tudo bem... agora cuido da minha saúde, pois não esqueço de mim mesmo... com a medicação que estou tomando daqui a uma semana este parasita já não deve mais dormir comigo...

Finalmente coloco algumas fotos.

Aquele abraço
















Monday, August 24, 2009

Primeiras impressões de um Muzungo

Sem revisão ortografica por que vai acabar a bateria e estamos sem energia eletrica.
Ola!

Sim, agora sou Muzungo... já tive muitas denominações na vida, porém esta é completamente nova para mim, assim como muita coisa aqui, Muzungo significa homem branco... andando pelas comunidades quando uma criança me vê as vezes faz cara de assustada, as vezes de surpresa, as vezes apenas ri... após um aceno ou um ‘tudo bem’ racha o bico de rir e vem atrás de mim... aí começa a análise, o Muzungo tá comendo um pão AHhauHAUhau.... ou o Muzungo tá conversando AHuahUHAUha.... minha simples existência é motivo para que elas caiam na gargalhada... isso acontece com aproximadamente 98% das crianças que nos vêem... os Muzungos... os outros 2% ficam com medo.

Após a viagem maluca para chegar aqui, a sexta feira foi um dia de primeiro reconhecimento... reconhecimento da escola... das oficinas pedagógicas... das pessoas, tanto alunos quanto DIs como eu, professores e o Bobby, estadounidense que meio que toma conta dos estrangeiros que vem para cá... pareceu ser muito entregue ao trabalho e bem companheiro dos DIs na tarefa de arranjar um lugar aqui e uma maneira de ser realmente útil... por tudo que tenho conversado por aqui, esta ultima parte não será fácil, já que há um programa de formação dos professores já estabelecido, onde o estrangeiro possui um papel de vir com inovações e um certo policiamento dos professores da escola que por vezes (pelo que me contam, muitas vezes) são bem falhos, não sabem sobre o que estão ensinando e por este motivo os professores não costumam ser muito receptivos com os DIs, nos vêem muitas vezes como aquele que vem para policia-los e dar aulas em seu lugar. O ensino por aqui é mais do que ruim, o nível é muito baixo e percebe-se em pequenas conversas que falta muito conteúdo e os alunos aqui são os professores no ano que vem... entre os professores já há um déficit imenso de informação, imagine entre os alunos... além do mais o governo de Moçambique faz o favor de atrapalhar já que desde o ano passado regulamentou que o treinamento dos professores deveria ser de 1 ano ao invés de 2 anos e meio como era anteriormente... então não se pode esperar muito mesmo, visto que o ensino de base é muito ruim e ao terminar o ensino de base o aluno já está apto a começar o treinamento para ser professor... e então em um ano ele já é professor!!! Ora, em um estalo que se faça o professor!!! A desculpa dada pelo governo foi de que é necessário acelerar o processo de diminuição do analfabetismo para que em 2015 se atinja o famoso e ridículo Millenium Goal das Nações Unidas... então que se faça rápido qualquer professor.

Voltando a parte mais amena da coisa, as condições por aqui são relativamente muito boas... as vezes temos água encanada que vem de um lençol bem limpo... quase sempre temos energia elétrica e temos também internet que não é de maneira alguma próxima de ser rápida, mas existe... isso que importa. Divido uma pequena residência com mais dois DIs, o Kuda, do Zimbabwe, muito gente boa e engraçado por demais e o Fabio, um italiano maluco que já trabalhou no Senegal, em Ghana e tinha dreadlocks de 12 anos que iam até o joelho, muito companheiro... um maluco beleza de primeira categoria, ambos tem feito um bom trabalho por aqui em seus projetos e dividir a residencia com eles é um prazer. A residência em si é extremamente simples mas muito suficiente, o teto é de palha trançada em estilo moçambicano com uma lona por baixo que faz com que a quantidade de mosquitos e insetos exóticos seja reduzida... a parede de tijolos de barro funciona aparentemente muito bem já que por aqui não há terremotos ou tufões ou coisa parecida... dentro uma pequena mesa e dois beliches que ficam extremamente charmosos com as redes contra mosquito instaladas... as janelas, coitadas, essas não estão funcionando hehe, tenho que gastar um tempo na manutenção das mesmas já que a malária bomba por aqui... do lado de fora um banquinho excelente para jogar conversa fora e tomar um cafezinho, mas com moderação por que as cobras não podem ser avistadas pela noite e suas cabeças triangulares indicam peçonha... do lado mais duas casinhas no mesmo padrão alojam outros DIs entre eles o Rodrigo, meu amigo de IICD... O banheiro é coletivo para todos nós e possui um chuveiro de funcionamento complicado, ele teoricamente é quente, porém na prática é bem gelado e por vezes não possui agua! O que obriga uma caminhada ao poço para coleta de H2O que deve ser gentilemente jogada sobre o corpo com uma canequinha estrategicamente colocada no banheiro.

A comida merece um parágrafo... aqui temos o benefício de uma cozinheira que faz sempre o cardápio básico moçambicano, Xima com alguma coisa... a Xima...ah a Xima, tem um gosto de nada, cheiro nenhum e forma indefinida, é uma pasta de farinha com valor nutritivo zero que tem a função de te deixar em pé e acompanhar aquilo que vem junto que pode ser um frango (com gosto bem diferente dos EUA) ou um peixe que ainda não sei qual é, mas que feito na fogueira fica uma delícia... temos também as vezes arroz com feijão, com um tempero meio que diferente mas muito melhor que o meu famoso feijão que sempre queima... quando o prato é feijão com arroz é feijão com arroz e mais nada. As frutas são ridiculamente baratas e me aproveito muito para complementar essa rica dieta com elas... um cacho de bananas é dois meticais (USD 0,06) e meia dúzia de laranja 5 meticais... e há muito mais diversidade também... pela manhã sempre faço ovos com tomate que junto com o pãozinho feito na hora de algum vendedor local fica uma delicia... Aqui na cozinha temos garfos, não facas mas garfos... porém no final de semana fomos a Nhamatanda, em outra EPF onde aconteceram os jogos olimpicos dos alunos, na primeira refeição a surpresa!pego meu prato cheio de Xima e um pedaço de frango e saio a procurar meus talheres... estranhamente não os encontro e pergunto a um rapaz que estava cozinhando (erro, pois vi como eles estavam cozinhando(higiene zero)) cadê os talheres meu amigo? .... talheres? Hein? Oi? Oque? Neste momento percebo que todo mundo come com as mãos! Ahhhh caralho, vamos lá... e dois minutos depois parecia que comia com as mãos desde crinça... mentira, um desconforto da porra que pioraria muito no jantar quando o prato foi arroz! Puta merda arroz com as mãos foi foda. Acostume-se.

Os jogos olímpicos foram uma boa maneira de conhecer gente e se alocar um pouco melhor no estilo de vida daqui, vi várias modalidades, joguei bolinha de gude com a mulekada e conheci outras comunidades igualmente pobres (para não dizer miseravelmente pobres) onde as condições de higiene amedrontam. Na cidade de Nhamatanda havia um cinema!!! No estilo africano, uma casa de palha um pouco maior, com bancos de madeira e uma televisão com um DVD Player!!! Atração da comunidade. A noite de apresentações de música e danças foi muito rica culturalmente para mim... eles tem uma energia que impressiona quando a matéria é diversão, após jogarem o dia inteiro se apresentaram até altas horas da madrugada e no outro dia estavam jogando novamente, aquelas roupas coloridas e movimentos de corpos feitos em borracha são espetaculares. Conheci lá outros DIs vindos de diferentes países e trocamos muita informação, além disso também reencontrei o KBS amigo do IICD também que está trabalhando numa cidade próxima.

Hoje pela manhã saí com a Grazi, outra DI, pois estava passando muito mal a noite e achava que estava com malária, felizmente após o teste no hospital o resultado negativo a aliviou... ela me apresentou a Eliza, uma médica brasileira que trabalha no hospital de Chimoio e nos faz o teste de graça e sem pegar uma gigante fila que fica a fora... ok, um privilégio Muzungo que irei me utilizar... pela tarde fui com dois alunos conhecer as escolas da comunidade e em meio a crianças que me cercavam e tocavam o Muzungo aqui conheci a todas... muito simples, todas elas... 40, 50 crianças por sala e um frio na barriga me possuiu, Meu Deus, logo mais é minha tarefa controla-las e tentar passar algum conhecimento... eles tem uma energia que não condiz com o valor energetico da comida que possuem, nem com suas grandes barrigas em pequenos corpos que mostram que dentro deles há algo com o qual tem que dividir sua escassa comida. Muitas escolas e os dois alunos fizeram um bom papel de cicerone me ajudando muito a começar entender melhor esta realidade. Minhas 2 primeiras semanas serão assim, conhecer as escolas, professores, comunidades para entender melhor o que pode ser util, amanha viajarei para uma comunidade mais ao norte onde a Humana possui oficinas pedagógicas para entender mellhor como elas funcionam...terminando este período devo começar a fazer algo que ainda não está claro em minha mente...

Um grande abraço

Friday, August 21, 2009

Um dia a se lembrar...

Ola,

Hoje fiz a viagem a Chimoio, cidade onde fica o projeto que irei atuar aqui em Moçambique... na verdade fiz uma parte da viagem e foi um dia que posso dizer inesquecível, um dia de confronto com a realidade. Ver pelo National Geographic é uma coisa, tocar é outra.

Deveria sair as 4 da manhã da EPF de Maputo, onde fiquei estes dias na capital de Moçambique e comigo seguiria na viagem o Andrew sul africano que trabalha em um projeto mais ao norte de Moçambique e faria o mesmo trajeto. Não consegui dormir direito mais uma vez, ainda não estou acostumado com o fuso horário e acordei as 2 da manhã... banho longo pois não sei quando será o próximo, preparar uma comida e pé na estrada... pelas 4 chega o motorista que nos leva até a central onde pensava eu, pegaria um ônibus para Chimoio, que fica a 1.400km de Maputo... pensava eu. Chegando na estação me confronto com um monte de chapas (a lotação) que fazem viagens para todos os cantos do país... inacreditável, então a viagem de 18 horas (previstas) seria feita num chapa e não num ônibus, ou melhor em um Chibombo que não passa de uma van um pouco maior... na ‘estação’ encontramos um chibombo que estava se preparando para este trajeto.... um caos, uma desorganização fenomenal... pessoas discutindo pois estavam no chibombo errado e o cobrador não devolvia o dinheiro... polícia para resolver... colocar as malas na van, um sacrifício, muitas malas... todas as pessoas e mais as suas malas vão na van... caberia nela umas 15 pessoas, vão 26 e mais as malas... 18 horas!!!! beleza.

Depois de muito tempo de confusão, chega-se a um resultado ridículo na arrumação das malas, elas caem para todos os lados... passageiros sem o bilhete discutem com o cobrador, crianças pequenas começam a chorar. Neste momento o rapaz que estaria ao meu lado a viagem toda adentra a van... bêbado como um porco, sem o bilhete, discutindo com todo mundo, com um cheirinho que hummm, dava gosto! Nos acomodamos finalmente e o rapaz todo serelepe não para um minuto, pensava que já estava bem apertado lá atrás, no banco eu o Andrew o bêbado serelepe e agora uma senhora entre nós... movimentos eram proibidos, me lembrei do videozinho do avião que recomenda sempre para que de duas em duas horas levante-se para algum movimento nos pés, pernas e tal... mas ali não tem serviço de bordo e me contento com a não mobilidade. A van deixa a estação, começa a odisséia.

Rapidamente o rapaz bêbado mostra que seria um problema, cai para todos os lados, em cima da senhora, nas costas da senhora que o xinga o tempo todo em uma língua local inteligível para meus ouvidos... a senhora se remexe, me aperta um pouco mais o Andrew perguntando o tempo todo... are you ok? e rindo, como se ria... até ai tudo bem, ou quase, mas a situação piora no momento em que as malas começam a cair em cima de mim, da senhora e do bêbado... o bebâdo dorme e com a sutileza de qualquer bêbado cai em cima da mulher como uma pedra.. ela xinga mais... e assim permanecemos por umas 4 horas até a primeira parada... Voltamos da primeira parada e a cena se repete com o agravante que o bêbado traz consigo uma garrafa de vinho, começo a ficar preocupado no momento em que ele abre o vinho dentro da van com uma faca enorme, a senhora xinga... o bêbado vai caindo agora com o vinho na mão... eu observo e me expremo...

A cena se repete por mais umas 4 horas até a próxima parada, com exceção do fato que todos na van começam a se rebelar contra o bêbado... as malas caem, essa segunda parada foi cinematográfica, num vilarejo em meio a muito pouco, ao parar a van todos os tipos de vendedores vem e começam a bater no vidro, vendendo de tudo... desço da van para comprar uma coca-cola (água, rá, nem pensar) as crianças ficam me olhando com ar de curiosidade... ensaio uma brincadeira com elas que começam a me tocar com ares de ‘é real mesmo’ tive a impressão que se não fui o primeiro fui um dos primeiros ‘brancos’ que elas viram... elas me cercam, os mais velhos oferecendo pão, suco, farinha, coco... entro na van. Neste momento os ‘organizadores’ (estou cheio de ‘’ hoje) da van reorganizam as malas (ahuHAUhua) a situação piora por incrível que pareça... a senhora se rebela e diz que não senta mais lá... fica o bêbado do meu lado... neste momento já em um estado de latência... vai dormindo caindo em cima de mim pelas horas que seguem... Nesta hora já estava bem relaxado e apenas rindo da situação.

Quando são umas 4 da tarde.... pufffff a van está envolta em fumaça... era o que faltava, essa porra quebrou.... quebrou e não tem concerto... passam-se algumas horas para que com todos fora da van, motorista e cobrador se decidam o que fazer... e eles decidem não fazer nada, é isso aí... desculpa rapazeada mas fudeu mesmo, sinto muito. As pessoas ficam injuriadas, estamos no meio do nada, como de costume... no horizonte vejo o sol imenso, laranja, como no filme do rei leão se pondo na savanah, penso meu Deus que lugar é esse, ao mesmo tempo em que são esquecidos por toda a humanidade olha só essa natureza... humanidade aqui é pouca... numa das discussões que observava calado numa experiência sociológica moçambicana um homem meio que revoltado diz que o moçambicano... e se atreve, que o africano não respeita o próprio negro, eles não conseguem conversar só se movem quando a discussão passa para a força... e é o que constato como verdade, as pessoas pediram por muito tempo, calmamente para que o cobrador devolvesse o dinheiro de parte da viagem, o que me parecia o mínimo, mas com uma atitude muito desrespeitosa o indivíduo não fala nada... só devolveu o dinheiro quando ameaçaram capota-lo... fiquei com mais alguns pedindo carona e no primeiro que parou falaram para que eu fosse... mas porque? tem umas 3 senhoras com criança nas costas, elas tem que ir primeiro... fico lá ainda por um bom tempo, conseguimos várias caronas finalmente pego minha carona.

Nossa carona foi uma pick up que levou a mim, Andrew e mais três homens na caçamba em direção a um vilarejo próximo (que não me lembro o nome agora), fomos na caçamba por umas três horas ouvindo os barulhos da mata, vendo as estrelas no céu (que é incrivelmente estrelado, é claro) e nos encolhendo do frio, já que o rapaz da pick-up como todos os africanos que me dirigiram até agora, gostava da velocidade... algumas vezes que olhei o velocímetro me assustei, a velocidade era 150.. 160... chegamos ao vilarejo e a cena era surreal... no meio da mata mesmo aparece uma vila, com bastante gente na rua... muitas fogueiras, festas em todos os lugares.... muita música... reggae, música brasileira, música moçambicana... casas de palha, todas as casas são de palha... entramos em uma estalagem (creio que seria o melhor nome) onde passamos a noite, no lugar muitos quartos, todos xexelentos, em meio a uma grande fogueira que produzia água fervida para tudo que necessitasse água... Vou com o Andrew até a frente da estalagem onde vendiam comida, estamos famintos, olho a comida e peço uma bolacha e uma coca-cola, meu estômago ainda não deve estar preparado para aquilo que via, fico lá na frente observando... as casas de palha, as pessoas dançando reggae, muito alcool, várias fogueiras, crianças na rua, discussões... peço um cigarro, ponho meu sleeping bag no chão e vou dormir...

No dia seguinte acordamos as 6 da manhã pois seguiriamos com o caroneiro para Ishope, uma cidade mais a frente, de onde eu e Andrew poderíamos pegar um chapa que nos levasse a Chimoio, bunda na caçamba e vamos de novo de carona com o corredor... antes de sair vou muito inocente escovar os dentes num banheiro bem limpinho! Ahhh inocência, água encanada.... rá.... vou pedir um pouco de água para um senhor (foto ao final) que gentilmente me arruma uma garrafa com água fervida... alguma higiene feita, percebo por que as pessoas geralmente não tem um cheiro maravilhoso... não tem água, oras, eu estava fedendo....vamos para fora da estalagem e a cena era bem diferente daquela a noite... muitas mulheres com suas crianças nas costas indo buscar água em algum lugar, mulheres vendendo frutas, crianças vendendo de tudo.... cade os homens??? Ahh estavam lá no reggae a noite bebendo, havia aprendido no IICD que por aqui a mulher tem o papel de trabalhar, cuidar dos filhos e tudo mais, mas na realidade me parece um pouco pior, raramente vejo um homem trabalhando... muitas mulheres e crianças... Até este momento havia perdido boas fotos por bobagem, estava meio que na segunda de tirar minha máquina que parece muito cara e ficar lá pagando de branco fotógrafo... as pessoas não são ruins, muito pelo contrário são muito trabalhadoras (excluindo homens na melhor idade produtiva) gentis, se ajudam demais, gostam de trocar, conversar... porém quando se passa fome, uma máquina fotográfica pode significar dois meses de alimentação... pergunto ao Andrew, você acha que posso tirar umas fotos? Ele diz claro, tira uma de mim! então saco a câmera e tiro umas fotos, umas crianças que observavam vem em minha direção correndo... tira uma de mim!!! tira uma de mim!!!... tiro várias fotos e mostro para elas que se riem demais... e me rio com elas, olha que bonito que você ficou nessa foto... putz mas esse cara é feio demais! e ficamos lá rindo um pouco antes da van ir embora... na verdade estou me acostumando a essa realidade que para mim é muito cruel e por mais que soubesse que existe, assim como você... estudar sobre ou saber que existe não é a mesma coisa que vivenciar essa loucura.

Seguimos viagem e no caminho mais quatro jovens que pediam carona entram na caçamba, chegamos a Ishope em 1 hora eu e Andrew pegamos a van para Chimoio que como de costume vai lotada, mas de maneira mais humana desta vez... finalmente chego após 31 horas de viagem a EPF.


Enfim, pensei agora em escrever um pouco sobre minhas primeiras impressões sobre o projeto, mas já escrevi demais e as primeiras impressões muitas vezes enganam, numa próxima escrevo sobre isso... estou aqui em Moçambique a muito pouco, terei muitas opiniões sobre tudo ainda, porém estes poucos dias até chegar a Chimoio foram suficientes para estampar em minha cara que a realidade aqui é mesmo muito, muito triste, por mais que não venha de um país rico como o Brasil, onde existe a miséria, falta muita coisa... aqui todo mundo é pobre, a diferença está apenas entre pobres, muito pobres e miseráveis... não há estrutura nenhuma, as cidades são apenas aglomerados de gente... a capital é um caos... as casas são em sua grande maioria de palha... não tem água ou energia elétrica em muitos lugares... não tem comida para muita gente... o transporte é degradante... Eu pessoalmente sempre gostei de me aventurar, de encontrar aquilo que para mim é desconhecido, sempre quis trabalhar com educação por mais que não tenha feito mais que poucas aulas voluntárias de história, pessoalmente eu tenho certeza que alcançarei meus objetivos aqui, também sei que não mudo o mundo e daqui a 6 meses quando fizer o mesmo caminho de volta verei a mesma realidade, com os mesmos problemas e tudo mais, mas realmente quero contribuir um pouco que seja para que de alguma maneira algo melhore, não apenas com o dinheiro arrecadado lá em Michigan que está muito longe agora, mas com as pessoas que realmente precisam muito de pessoas que auxiliem a sair desse ciclo vicioso de sofrimento.


Aquele abraço

Wednesday, August 19, 2009

Fora do condomínio

Ola,

Na manhã de segunda feira, saí de Johannesburg pelas 6.00 da manhã, rumo a Maputo, em Moçambique, aonde fica o ‘quartel general’ da Humana no país e primeira parada de todos os DIs que vem para cá. O caminho até a rodoviária foi um primeiro cala a boca contra minhas críticas ao trânsito paulistano. O motorista do hotel me levou até a rodoviária num caminho de 50 minutos de puro sentimento suicida... o Emanuel cidadão do Malawi que dirigia tinha um forte apego pela velocidade, digamos, umas 3 vezes eu pensei ‘agora não tem jeito, bateu’ mas não bateu, felizmente, e ele não era o único, todo mundo dirigindo que nem loco naquela cidade, cortando de lá para cá... muito carro, transito carregado e incrivelmente rápido, para deixar motoboy paulistando no chinelo e olha que sempre fui stressado no transito, mas isso aqui é outra coisa. Mal podia esperar para sair daquele carro.

Chegando a rodoviária com uma fome das arábias, parei numa loja de comida turca para fazer um lanche e só tinha dólares na carteira, como o hotel tava me roubando deixei de trocar por Rands... após uma choradeira o turco resolveu aceitar os dólares e nunca vi eles renderem tanto... uma nota de 5 me valeu 3 lanches, um negócio estranho típico turco que tava bom e mais um suco de 500ml... tive comida para toda a viagem pela frente.

No ônibus de Johannesburg a Maputo as paisagens exuberantes da região não me deixavam dormir... apesar do sono que me matava eu me esforcei para ficar acordado já que o ônibus passava por montanhas cabulosas, regiões parecidas com o serrado cheia de bromélias do tamanho de coqueiros... e um monte de babuinos... uma hora pela janela vi o que parecia uma familia de babuinos sentada na beira da estrada... no meio um com cara de mais velho segurando um pau, tipo um cajado, só faltava uma pinguinha do lado para que fosse um ser humano, tinham expressão... a viagem demorou 10 horas. Em uma parada um pequeno flashback de minha chegada aos EUA... estava meio que dormindo, meio que acordado, o ônibus parou... muita sede, desci para comprar um suco...quando olho para o estacionamento de novo, cadê o ônibus? Momento de desespero, pronto, agora fudeu mesmo, to aqui no meio do nada (localização precisa) com um monte de babuíno, sem telefone... minha mala de roupas no busao e tem um laptop, uma filmadora e uma camera nas minhas costas... fudeu... Antes que o desespero chegasse a um ponto muito alto, vi um cara de dreads que estava no onibus saindo de uma loja... perguntei para ele como se fosse completo dono da situação : ‘ por acaso vc sabe se o ônibus volta aqui?’ ele riu, e com aquele inglês sulafricano respondeu... lógico, ele só foi abastecer ali do outro lado... e nesse momento todos os passageiros começaram a brotar para fora das lojinhas... ufa! Acho que sou muito distraído nessas paradas de ônibus, trem, etc...

A fronteira entre S. Africa e Moçambique era o caos... muita gente... todo tipo de vendedor imaginável, de celular a farinha... caminhões, ônibus, motos, cavalos, burricos, gente a pé... muita gente... rapidamente carimbei minha saída da Africa do Sul e corri para pegar o onibus do outro lado... cheguei depois de uma hora e pouco a Maputo, capital de Moçambique, onde estou agora... um ‘taxista’ me levou numa van caindo aos pedaços (acredite, pedaços) â EPF de Maputo onde fico até depois de amanhã quando viajo para Chimoio, cidade onde trabalharei na EPF. Aqui na EPF encontrei bons amigos do IICD Michigan e um pessoal de escolas dinamarquesas que trabalham aqui... Tudo muito bem, até que fui levar meu passaporte para ser colocado na database da humana, ou coisa parecida... descobri que carimbaram minha saída da Africa do Sul, mas não minha entrada em Moçambique... puta merda... tive que voltar para a fronteira... fiz isso hoje pela manhã... mas durou o dia todo na verdade...

Após pegar todas as instruções de como chegar a fronteira com os chapas (lotação) comecei a odisséia em direção a dita fronteira... primeiro um chapa aqui perto que foi uma doidera... o motorista completamente louco... a van caidassa (para ser gentil)... e 30 pessoas onde caberiam 15... vez enquando aparecia uma bunda na minha frente que não sabia de onde vinha... asfalto é lenda e mesmo demarcação de rua é lenda ... a viagem custa 5 meticais (uns 15 centavos de USD) e chego a uma central de chapas, onde pego outro até a fronteira... esse custa 90 meticais, e vai com menos pessoas, porém... apenas menos pessoas... todo tipo de muamba imaginável vai na van (já que a mesma ia até a fronteira) vou com os pés encima duma caixa de biscoitos, com 10 pacotes de salgadinho laranja encima... e tinha muito mais... só de linguiça tinha uns 3 porcos lá dentro...

A viagem de ida e volta demorou umas 4 horas nesse esquema o tempo todo... essa é a capital do país, mas a pobreza é borbulhante... na verdade parece uma gigantesca favela com cenas que se repetem... ruas de barro... pessoas por todos os cantos... macacos passeando pela beira da estrada... mulheres com sacos pesadíssimos equilibrados na cabeça... mulheres com crianças nas costas amarradas por panos, as mulheres são muito fortes... e lixo... mas muito lixo... mas lixo demais... uma quantidade de lixo que assusta... é cultura jogar o lixo no chão, quando no 4 e ultimo chapa, um rapaz jogou uma garrafa para fora, que acertou outro chapa... esse por sua vez, emparelhou o carro e começou a discutir... um ambiente bem caótico mesmo, mas por incrível que pareça (sim!) pacífico, pelo menos a primeira vista... pessoas gentis... um caos sustentado e muito antigo talvez.

Sim amigos, Africa, agora fora do condomínio e borbulhando pelas ruas que parecem um pedaço de selva... hoje estou na capital, quinta feira sigo para Chimoio, na área rural norte... onde ficarei pelos próximos seis meses.

Aquele abraço

P.S - Abração para a mãe do Raul!!!

Sunday, August 16, 2009

Finally Africa!

Ola,

Depois de uma quase longa viajem de São Paulo a Johannesburg, cá estou... 9.00 no horario local, 4.00 no horário de Brasília. O vôo muito bom, tempo limpo durante toda a viagem e o oceano atlântico na janela 90% do tempo... com excessão de uma hora e pouco sobre a Namíbia e Africa do Sul, num cenário bem africano mesmo...

No aeroporto o rapaz do hotel me esperava com uma plaquinha que reconheci apenas pelo nome do hotel... por que o meu nome mudou para Thea Todo!!! Acredita, acabei de chegar e já tenho nome novo... susto! Por alguns momentos me esqueci que aqui se dirige pelo lado direito do carro, muito estranho, todas as vias são ao contrário e a sensação de que estava o tempo todo na contramão foi constante... os semáforos invertidos, assim como a sinalização, estranho mesmo.

Chegando ao hotel descobri que minha reserva estava mais ou menos feita e que o mesmo não fica em Johannesburg mas sim num bairro ou cidadela próximo... em um condomínio fechado, perguntei como poderia pegar um onibus para conhecer Johannesburg e fui altamente recomendado pela Leona, recepcionista a não fazer isso... só faltou ela dizer : com essa pinta de Indiana Jones, vão te assaltar em 2 minutos... acho que tenho que deixar minha jaqueta de explorador para momentos mais propícios... enfim, como só vou ficar um dia aqui e estou quebrado (já que desta vez, no avião, tinha um indiano do meu lado que só roncava e peidava... vi 3 filmes) não vou para Jo´burg... Fui sim a um shopping aqui bem próximo, caminhando mesmo para comprar algo de beber e umas frutas... as coisas são baratas mas nem tanto, ainda mais por que o hotel enfiou uma bica na cotação dos Rands para os dólares que é o que possuo... mesmo assim para quem sobreviveu nos EUA vai ser moleza...

No caminho ao shopping algumas breves constatações... os barulhos são muitos e são outros ... pássaros grandes e estranhos, além de pedaços de bixos grandes pela estrada... aqui sou branco, no shopping haviam muito poucos e a sensação de que estava sendo bem observado não era só uma sensação... voltando do shopping já percebi que uma coisa é verdade... nas ruas fora do condomínio onde é o hotel, a graaande maioria da população é negra e os carros são mais humildes... dentro do condomínio, Mercedes, Audi, BMW e juro... nenhum negro... só as pessoas que trabalham no hotel. Bem vindo a África do Sul.

Vou dormir que estou quebrado, mesmo por que as tomadas são de um padrão diferente e minha bateria acabará em pouco instantes, porém nestas poucas horas por aqui já percebi que estou num lugar bem diferente daqueles que conheço... Isso por que aqui é um condomínio fechado.

Aquele abraço

Wednesday, August 5, 2009

See you IICD!

No trem, em algm lugar entre South Bend e New York

Da mesma maneira como cheguei ao IICD 9 meses atrás, estou indo embora hoje... e parece que foi ontem mesmo, tudo bem rápido... lembro de correr atrás deste trem em uma estação... lembro do frio na barriga quando saí de NYC e me dirigi a pequena comunidade da qual faria parte nos próximos 9 meses... estava nevando muito, e pela primeira vez vi a neve... neve esta que vi demais, ao ponto de não querer mais algum tempo depois... hoje é um dia de sol, com temperatura amena...

Muito difícil ir embora do IICD, neste tempo vi muita gente indo e vindo de lá, sabia que como eu já tinha vindo... uma hora eu teria o indo. Estas semanas que passaram foram de um sentimento de tarefa cumprida meio que enevoado pelo ‘que pena que acabou’, meus companheiros do time já foram quase todos embora e eu serei o último a chegar a África, visto que vou dar uma passadinha agora em NY e depois no Brasil para matar saudades... muitas saudades para morrer em poucos dias. Deixar a comunidade lá nos confins me Michigan não é facil pois todos nós nos acostumamos a uma vida comunitária... dividimos as coisas, as experiências, a comida, as boas intenções... fora do IICD o mundo é de verdade e não funciona bem assim... mas nem mesmo Peter Pan fica pela terra do nunca.

Durante o tempo passado nos Estados Unidos, muitas vezes me esquecia que estava nos Estados Unidos ... me lembrava sempre que saia, ok... mas quando lá no instiituto simplesmente parecia um lugar X onde vivíamos, que as vezes nevava... as vezes fazia calor... onde eu tinha um trabalho que anteriormente não chamaria de trabalho (hoje eu chamo, pois cria muito mais que uma mesa de escritório) estudava sobre coisas subjetivas e não idéias programadas de universidade... podia parar e jogar uma bolinha... ou simplesmente conversar sobre qualquer coisa com um coreano, ou uma argentina ou uma dinamarquesa, ou.... simplesmente pessoas, muito diferentes uma das outras, mas todas bem adaptadas a aquela vida... que leva a idéia de democracia, de sociedade ao ponto do êxtase... pena que não se consiga criar este tipo de sociedade para que muita gente faça parte... vira bagunça... outras pessoas com idéias não tão compartilhativas querem tomar vantagem e ai já era.... que seja.

Hoje começo minha viagem em direção a África, novamente ao desconhecido, com consciência de que IICD é uma coisa o projeto lá é outra completamente diferente... algumas coisas em comuns visto que o movimento das DRH Schools (da qual o IICD é parte) tem a mesma ideologia digamos, dos projetos pelo mundo... porém agora é vida real... e é pelo que eu vim para os EUA, para ir a África e fazer meu trabalho... espero que lá o trabalho possa ser tão bem feito quanto foi aqui. Acredito que por isso o treinamento nos Institutos seja tão subjetivo... seja tão faça por você mesmo... ao viver em um lugar como este é impossível que após algum tempo você não veja as coisas de uma outra maneira, com outros olhos menos conformistas... lembro antes de vir para cá que estive pesquisando coisas ruins sobre o IICD e encontrei um site em que um canadense reclamava do padrão de ensino... da falta de professores... do fato que você teria que ser proativo (detesto essa palavra) e estudar por si... para mim hoje, como algumas pessoas que acompanharam este blog acabaram vindo para os EUA... eu digo que o ensino que está errado na minha opinião é o tradicional... da obrigação... dos testes... isso para mim é feito para que você tenha que se bitolar nas coisas... fechar o seu ângulo de visão para a opinião de algumas pessoas... quem disse que estas pessoas estão corretas? Quem não indaga as coisas virou escravo das idéias... não vou dizer que todas as universidades são assim, não são... há lugares onde é permitido pensar, mas infelizmente é a minoria... no IICD não elevei meus conhecimentos em matemática ou física quântica (0)... mas quebrei a visão reta que pensava que não tinha... mas tinha sim.

Hoje sou muito grato a vida por ter me dado a oportunidade de vivenciar isto... e sou muito grato a mim mesmo, por ter me permitido vivenciar isto...

Ai este trem... 20 horas de viagem, minhas costas estão em pandarecos (!!) tive que mudar de lugar por que a senhora do meu lado só roncava e peidava o tempo todo... ela pensa que eu não sei que era ela! Ráaa e de onde viria de 10 em 10 minutos aquele cheiro de dejetos de ontem!!! Agora deu uma esvaziada e consegui sentar sozinho então dá para escrever... já estou em Albany, NY e mais umas 4 horas chego a NYC. Entrar no trem foi meio bizarro, pois estou carregado de malas (aliás se alguém precisar de Ipod, câmera digital, Handycam, fala comigo!!!) e todo mundo já estava dormindo quando entrei... acordei uns 10... um com o sleeping bag... outro com uma malada... outro com o carrinho de mala.... outros que ouviram os meus ‘sorry’ ‘excuse me’ ... tudo bem, pelo menos eles estavam dormindo, pior eu que não durmi quase nada a noite com tanto ronco e peido ao lado.

Bem acho que é isso, na verdade escrevo este aqui para dizer que foi tudo muito bom... que vale a pena ousar e deixar nosso ambiente confortável as vezes para cairmos numa situação inesperada onde temos que reaprender a viver dia após dia... por um motivo bom que enobrece nossa aventura... bons motivos sempre enobrecem mesmo... não dão dinheiro, mas sim satisfação para quem tem amor no coração e quer compartilhar... agora rumo a África sinto aquela ponta de tristeza que sempre vem depois de uma grande gargalhada... sinto um friozinho de novo voltando para o Brasil... sinto um friozão de novo pensando em Moçambique... e a cada dia que passa gosto mais de frio na barriga.
Se cansar é só arrumar um colete

Aquele abraço!

P.S1 – Numa parada aqui no estado de NY agora mesmo saí do trem para tomar um chá... conversando com um rapaz que estuda em Chicago, o mesmo me contou é Tanzanês... (Tanzânia, deve ser o terceiro país que irei na África) peguei umas dicas de transporte e fiquei um pouco aliviado... ele disse que com os USD 100 que gastei no trem aqui, posso cruzar a Tanzania, Uganda, Kenya e chegar a uma metade do Sudão!!! caralho que país caro é esse... mas fiquei aliviado, meu budget não será alto mas será suficiente... na conversa disse que era de São Paulo e um outro rapaz, esse com sotaque do leste europeu me interrompeu, falando que tinha adorado São Paulo até ser deportado do Brasil... falou que sentia falta do black dog e ficamos conversando sobre as vezes que desci de bike para a praia... como para todos os que conto esta história ele disse ‘você deve ser maluco mesmo’ não sei porque o Tanzanês conocordou.. quem tem boca vai a Tanzania!

P.S 2– Agora sim, como disse estes ultimos tempos foram meio confusos e tal, foi o final deste aprendizado... não queria escrever... na África prometo que vou voltar a postar

P.S 3 - Esse post vai sem correção ortografica nenhuma, mal os erros... chegar en NY foi foda, mas cheguei... cheio de mala... um bike taxi me ajudou por que a situação tava tensa.... tá um calor... um bafo... não parece a mesma cidade que estive no inverno passado... bem melhor naquela época.