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Meu nome é Thiago Caro e em Novembro de 2008 decretei uma moratória a mim mesmo.
Morei um tempo bom em Michigan e viajei boa parte dos EUA em treinamento para o trabalho voluntário relacionado a educação que agora faço em Moçambique. Em Fevereiro de 2010 irei de Moçambique a Israel em uma viajem cruzando por terra, em transporte local, Tanzania, Kenya, Ethiopia, Sudão e Egito. Escrevo este blog como maneira de compartilhar minhas experiências e bobagens com todo aquele que ache interessante e fale português.

thiago_caro@hotmail.com

Monday, August 24, 2009

Primeiras impressões de um Muzungo

Sem revisão ortografica por que vai acabar a bateria e estamos sem energia eletrica.
Ola!

Sim, agora sou Muzungo... já tive muitas denominações na vida, porém esta é completamente nova para mim, assim como muita coisa aqui, Muzungo significa homem branco... andando pelas comunidades quando uma criança me vê as vezes faz cara de assustada, as vezes de surpresa, as vezes apenas ri... após um aceno ou um ‘tudo bem’ racha o bico de rir e vem atrás de mim... aí começa a análise, o Muzungo tá comendo um pão AHhauHAUhau.... ou o Muzungo tá conversando AHuahUHAUha.... minha simples existência é motivo para que elas caiam na gargalhada... isso acontece com aproximadamente 98% das crianças que nos vêem... os Muzungos... os outros 2% ficam com medo.

Após a viagem maluca para chegar aqui, a sexta feira foi um dia de primeiro reconhecimento... reconhecimento da escola... das oficinas pedagógicas... das pessoas, tanto alunos quanto DIs como eu, professores e o Bobby, estadounidense que meio que toma conta dos estrangeiros que vem para cá... pareceu ser muito entregue ao trabalho e bem companheiro dos DIs na tarefa de arranjar um lugar aqui e uma maneira de ser realmente útil... por tudo que tenho conversado por aqui, esta ultima parte não será fácil, já que há um programa de formação dos professores já estabelecido, onde o estrangeiro possui um papel de vir com inovações e um certo policiamento dos professores da escola que por vezes (pelo que me contam, muitas vezes) são bem falhos, não sabem sobre o que estão ensinando e por este motivo os professores não costumam ser muito receptivos com os DIs, nos vêem muitas vezes como aquele que vem para policia-los e dar aulas em seu lugar. O ensino por aqui é mais do que ruim, o nível é muito baixo e percebe-se em pequenas conversas que falta muito conteúdo e os alunos aqui são os professores no ano que vem... entre os professores já há um déficit imenso de informação, imagine entre os alunos... além do mais o governo de Moçambique faz o favor de atrapalhar já que desde o ano passado regulamentou que o treinamento dos professores deveria ser de 1 ano ao invés de 2 anos e meio como era anteriormente... então não se pode esperar muito mesmo, visto que o ensino de base é muito ruim e ao terminar o ensino de base o aluno já está apto a começar o treinamento para ser professor... e então em um ano ele já é professor!!! Ora, em um estalo que se faça o professor!!! A desculpa dada pelo governo foi de que é necessário acelerar o processo de diminuição do analfabetismo para que em 2015 se atinja o famoso e ridículo Millenium Goal das Nações Unidas... então que se faça rápido qualquer professor.

Voltando a parte mais amena da coisa, as condições por aqui são relativamente muito boas... as vezes temos água encanada que vem de um lençol bem limpo... quase sempre temos energia elétrica e temos também internet que não é de maneira alguma próxima de ser rápida, mas existe... isso que importa. Divido uma pequena residência com mais dois DIs, o Kuda, do Zimbabwe, muito gente boa e engraçado por demais e o Fabio, um italiano maluco que já trabalhou no Senegal, em Ghana e tinha dreadlocks de 12 anos que iam até o joelho, muito companheiro... um maluco beleza de primeira categoria, ambos tem feito um bom trabalho por aqui em seus projetos e dividir a residencia com eles é um prazer. A residência em si é extremamente simples mas muito suficiente, o teto é de palha trançada em estilo moçambicano com uma lona por baixo que faz com que a quantidade de mosquitos e insetos exóticos seja reduzida... a parede de tijolos de barro funciona aparentemente muito bem já que por aqui não há terremotos ou tufões ou coisa parecida... dentro uma pequena mesa e dois beliches que ficam extremamente charmosos com as redes contra mosquito instaladas... as janelas, coitadas, essas não estão funcionando hehe, tenho que gastar um tempo na manutenção das mesmas já que a malária bomba por aqui... do lado de fora um banquinho excelente para jogar conversa fora e tomar um cafezinho, mas com moderação por que as cobras não podem ser avistadas pela noite e suas cabeças triangulares indicam peçonha... do lado mais duas casinhas no mesmo padrão alojam outros DIs entre eles o Rodrigo, meu amigo de IICD... O banheiro é coletivo para todos nós e possui um chuveiro de funcionamento complicado, ele teoricamente é quente, porém na prática é bem gelado e por vezes não possui agua! O que obriga uma caminhada ao poço para coleta de H2O que deve ser gentilemente jogada sobre o corpo com uma canequinha estrategicamente colocada no banheiro.

A comida merece um parágrafo... aqui temos o benefício de uma cozinheira que faz sempre o cardápio básico moçambicano, Xima com alguma coisa... a Xima...ah a Xima, tem um gosto de nada, cheiro nenhum e forma indefinida, é uma pasta de farinha com valor nutritivo zero que tem a função de te deixar em pé e acompanhar aquilo que vem junto que pode ser um frango (com gosto bem diferente dos EUA) ou um peixe que ainda não sei qual é, mas que feito na fogueira fica uma delícia... temos também as vezes arroz com feijão, com um tempero meio que diferente mas muito melhor que o meu famoso feijão que sempre queima... quando o prato é feijão com arroz é feijão com arroz e mais nada. As frutas são ridiculamente baratas e me aproveito muito para complementar essa rica dieta com elas... um cacho de bananas é dois meticais (USD 0,06) e meia dúzia de laranja 5 meticais... e há muito mais diversidade também... pela manhã sempre faço ovos com tomate que junto com o pãozinho feito na hora de algum vendedor local fica uma delicia... Aqui na cozinha temos garfos, não facas mas garfos... porém no final de semana fomos a Nhamatanda, em outra EPF onde aconteceram os jogos olimpicos dos alunos, na primeira refeição a surpresa!pego meu prato cheio de Xima e um pedaço de frango e saio a procurar meus talheres... estranhamente não os encontro e pergunto a um rapaz que estava cozinhando (erro, pois vi como eles estavam cozinhando(higiene zero)) cadê os talheres meu amigo? .... talheres? Hein? Oi? Oque? Neste momento percebo que todo mundo come com as mãos! Ahhhh caralho, vamos lá... e dois minutos depois parecia que comia com as mãos desde crinça... mentira, um desconforto da porra que pioraria muito no jantar quando o prato foi arroz! Puta merda arroz com as mãos foi foda. Acostume-se.

Os jogos olímpicos foram uma boa maneira de conhecer gente e se alocar um pouco melhor no estilo de vida daqui, vi várias modalidades, joguei bolinha de gude com a mulekada e conheci outras comunidades igualmente pobres (para não dizer miseravelmente pobres) onde as condições de higiene amedrontam. Na cidade de Nhamatanda havia um cinema!!! No estilo africano, uma casa de palha um pouco maior, com bancos de madeira e uma televisão com um DVD Player!!! Atração da comunidade. A noite de apresentações de música e danças foi muito rica culturalmente para mim... eles tem uma energia que impressiona quando a matéria é diversão, após jogarem o dia inteiro se apresentaram até altas horas da madrugada e no outro dia estavam jogando novamente, aquelas roupas coloridas e movimentos de corpos feitos em borracha são espetaculares. Conheci lá outros DIs vindos de diferentes países e trocamos muita informação, além disso também reencontrei o KBS amigo do IICD também que está trabalhando numa cidade próxima.

Hoje pela manhã saí com a Grazi, outra DI, pois estava passando muito mal a noite e achava que estava com malária, felizmente após o teste no hospital o resultado negativo a aliviou... ela me apresentou a Eliza, uma médica brasileira que trabalha no hospital de Chimoio e nos faz o teste de graça e sem pegar uma gigante fila que fica a fora... ok, um privilégio Muzungo que irei me utilizar... pela tarde fui com dois alunos conhecer as escolas da comunidade e em meio a crianças que me cercavam e tocavam o Muzungo aqui conheci a todas... muito simples, todas elas... 40, 50 crianças por sala e um frio na barriga me possuiu, Meu Deus, logo mais é minha tarefa controla-las e tentar passar algum conhecimento... eles tem uma energia que não condiz com o valor energetico da comida que possuem, nem com suas grandes barrigas em pequenos corpos que mostram que dentro deles há algo com o qual tem que dividir sua escassa comida. Muitas escolas e os dois alunos fizeram um bom papel de cicerone me ajudando muito a começar entender melhor esta realidade. Minhas 2 primeiras semanas serão assim, conhecer as escolas, professores, comunidades para entender melhor o que pode ser util, amanha viajarei para uma comunidade mais ao norte onde a Humana possui oficinas pedagógicas para entender mellhor como elas funcionam...terminando este período devo começar a fazer algo que ainda não está claro em minha mente...

Um grande abraço

3 Comments:

Denise said...

Uau… especializei-me em começar meus comentários com esta expressão. Estou chocada. Bege. Posso imaginar Adorinda lendo seus relatos. Como disse antes, imagino que vc esteja ‘amenizando’ um pouco na ‘narrativa’ (adotei os seus ‘ ‘ ) AshuAshuaAshua (oops, mais uma 'adoção'!)
Enfim... Tem que ter muita Ghana, mesmo, já que vc é Muzungo... e, pelo visto, 'Senegão' não é muita vantagem por aí...
Só peço que se cuide... E, pensando na primeira música do CD Intitulado “OTA”, copio-lhe os versos:
"Dona Felicidade... Até que um anjo me disse que ela existe e é tão fácil encontrar... Bem lá no fundo do peito, o amor é feito, é só você se entregar... E você vai ser muito feliz, é só na vida acreditar!!!"

Deus te abençoe, amigo, filho... meu amorzinho.
Ôta Caro

Anna Carolina Negri said...

Meu Deus, Thiago... ainda estou digerindo o q li... Q loucura! Vou acompanhar td com frequencia por aqui!
bjs

Tulio Pimenta said...

Olha so meu Deus, quantr mais voce se afasta de casa, mais enfrenta situaçoes de conflito, engraçadas e ate surpresas.. hehe me pego rindo imaginando destas situaçoes inusitadas e apuros que esta passando, como, comer com as maos, falta de recursos de sobrevida tipo agua e luz escasso, etc. Como bom brasileiro, espero estar se adaptando a tudo com muito bom humor, e entao, esta se comunicando em POrtugues ou ingles com a galera dai?? Cada relato, me faz adquirir mais conhecimento, mesmo sabendo que cada um é cada um e iremos fazer programs distintos e ate locais direfentes, contudo , pode ser sorte poder ir ate onde esteve. Amigasso, forte abraço. da terrinha Tupiniquim. BH, MG - Ps. E a camisa, sera que ainda vou receber de presente? o que quer em troca? abraços
Muzunzo. lol.. tpiment@bol.com.br