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Meu nome é Thiago Caro e em Novembro de 2008 decretei uma moratória a mim mesmo.
Morei um tempo bom em Michigan e viajei boa parte dos EUA em treinamento para o trabalho voluntário relacionado a educação que agora faço em Moçambique. Em Fevereiro de 2010 irei de Moçambique a Israel em uma viajem cruzando por terra, em transporte local, Tanzania, Kenya, Ethiopia, Sudão e Egito. Escrevo este blog como maneira de compartilhar minhas experiências e bobagens com todo aquele que ache interessante e fale português.

thiago_caro@hotmail.com

Wednesday, August 19, 2009

Fora do condomínio

Ola,

Na manhã de segunda feira, saí de Johannesburg pelas 6.00 da manhã, rumo a Maputo, em Moçambique, aonde fica o ‘quartel general’ da Humana no país e primeira parada de todos os DIs que vem para cá. O caminho até a rodoviária foi um primeiro cala a boca contra minhas críticas ao trânsito paulistano. O motorista do hotel me levou até a rodoviária num caminho de 50 minutos de puro sentimento suicida... o Emanuel cidadão do Malawi que dirigia tinha um forte apego pela velocidade, digamos, umas 3 vezes eu pensei ‘agora não tem jeito, bateu’ mas não bateu, felizmente, e ele não era o único, todo mundo dirigindo que nem loco naquela cidade, cortando de lá para cá... muito carro, transito carregado e incrivelmente rápido, para deixar motoboy paulistando no chinelo e olha que sempre fui stressado no transito, mas isso aqui é outra coisa. Mal podia esperar para sair daquele carro.

Chegando a rodoviária com uma fome das arábias, parei numa loja de comida turca para fazer um lanche e só tinha dólares na carteira, como o hotel tava me roubando deixei de trocar por Rands... após uma choradeira o turco resolveu aceitar os dólares e nunca vi eles renderem tanto... uma nota de 5 me valeu 3 lanches, um negócio estranho típico turco que tava bom e mais um suco de 500ml... tive comida para toda a viagem pela frente.

No ônibus de Johannesburg a Maputo as paisagens exuberantes da região não me deixavam dormir... apesar do sono que me matava eu me esforcei para ficar acordado já que o ônibus passava por montanhas cabulosas, regiões parecidas com o serrado cheia de bromélias do tamanho de coqueiros... e um monte de babuinos... uma hora pela janela vi o que parecia uma familia de babuinos sentada na beira da estrada... no meio um com cara de mais velho segurando um pau, tipo um cajado, só faltava uma pinguinha do lado para que fosse um ser humano, tinham expressão... a viagem demorou 10 horas. Em uma parada um pequeno flashback de minha chegada aos EUA... estava meio que dormindo, meio que acordado, o ônibus parou... muita sede, desci para comprar um suco...quando olho para o estacionamento de novo, cadê o ônibus? Momento de desespero, pronto, agora fudeu mesmo, to aqui no meio do nada (localização precisa) com um monte de babuíno, sem telefone... minha mala de roupas no busao e tem um laptop, uma filmadora e uma camera nas minhas costas... fudeu... Antes que o desespero chegasse a um ponto muito alto, vi um cara de dreads que estava no onibus saindo de uma loja... perguntei para ele como se fosse completo dono da situação : ‘ por acaso vc sabe se o ônibus volta aqui?’ ele riu, e com aquele inglês sulafricano respondeu... lógico, ele só foi abastecer ali do outro lado... e nesse momento todos os passageiros começaram a brotar para fora das lojinhas... ufa! Acho que sou muito distraído nessas paradas de ônibus, trem, etc...

A fronteira entre S. Africa e Moçambique era o caos... muita gente... todo tipo de vendedor imaginável, de celular a farinha... caminhões, ônibus, motos, cavalos, burricos, gente a pé... muita gente... rapidamente carimbei minha saída da Africa do Sul e corri para pegar o onibus do outro lado... cheguei depois de uma hora e pouco a Maputo, capital de Moçambique, onde estou agora... um ‘taxista’ me levou numa van caindo aos pedaços (acredite, pedaços) â EPF de Maputo onde fico até depois de amanhã quando viajo para Chimoio, cidade onde trabalharei na EPF. Aqui na EPF encontrei bons amigos do IICD Michigan e um pessoal de escolas dinamarquesas que trabalham aqui... Tudo muito bem, até que fui levar meu passaporte para ser colocado na database da humana, ou coisa parecida... descobri que carimbaram minha saída da Africa do Sul, mas não minha entrada em Moçambique... puta merda... tive que voltar para a fronteira... fiz isso hoje pela manhã... mas durou o dia todo na verdade...

Após pegar todas as instruções de como chegar a fronteira com os chapas (lotação) comecei a odisséia em direção a dita fronteira... primeiro um chapa aqui perto que foi uma doidera... o motorista completamente louco... a van caidassa (para ser gentil)... e 30 pessoas onde caberiam 15... vez enquando aparecia uma bunda na minha frente que não sabia de onde vinha... asfalto é lenda e mesmo demarcação de rua é lenda ... a viagem custa 5 meticais (uns 15 centavos de USD) e chego a uma central de chapas, onde pego outro até a fronteira... esse custa 90 meticais, e vai com menos pessoas, porém... apenas menos pessoas... todo tipo de muamba imaginável vai na van (já que a mesma ia até a fronteira) vou com os pés encima duma caixa de biscoitos, com 10 pacotes de salgadinho laranja encima... e tinha muito mais... só de linguiça tinha uns 3 porcos lá dentro...

A viagem de ida e volta demorou umas 4 horas nesse esquema o tempo todo... essa é a capital do país, mas a pobreza é borbulhante... na verdade parece uma gigantesca favela com cenas que se repetem... ruas de barro... pessoas por todos os cantos... macacos passeando pela beira da estrada... mulheres com sacos pesadíssimos equilibrados na cabeça... mulheres com crianças nas costas amarradas por panos, as mulheres são muito fortes... e lixo... mas muito lixo... mas lixo demais... uma quantidade de lixo que assusta... é cultura jogar o lixo no chão, quando no 4 e ultimo chapa, um rapaz jogou uma garrafa para fora, que acertou outro chapa... esse por sua vez, emparelhou o carro e começou a discutir... um ambiente bem caótico mesmo, mas por incrível que pareça (sim!) pacífico, pelo menos a primeira vista... pessoas gentis... um caos sustentado e muito antigo talvez.

Sim amigos, Africa, agora fora do condomínio e borbulhando pelas ruas que parecem um pedaço de selva... hoje estou na capital, quinta feira sigo para Chimoio, na área rural norte... onde ficarei pelos próximos seis meses.

Aquele abraço

P.S - Abração para a mãe do Raul!!!

1 Comment:

Denise said...

Olá Garoto
Viajei até Chimoio pelo Google Earth... Consegui uma boa aproximação... não a ponto de ver macacos ou as mega-ulta-hiper-fortes mulheres a carregar imensos e pesados fardos (depois de ler sua narrativa, estou feliz com meu fardo virtual), ou o lixo...
Notei que não há pavimentação, também, igual quiném em Maputo! Que infortúnio!! (como diria a funéria)
E, na hora do almoço hoje, não é que me lembrei de você?
Uma simples conversa com uma pessoa estabanada... Comíamos macarrão ao sugo alegremente, num dia típico de feijoada, quarta-feira, e pingou o sugo na camisa do meu colega... Eu disse:
- “Chi, Moio de tomate não sai fácil” (typical Caro’s family joke) (please laugh!!! Senão eu conto pra Márcia e garanto uma gargalhada!!!).
Quer dizer que está se especializando em “perder” a condução... da próxima, já sabe, né? Desce do trem/ônibus/van/jegue com tudo... ou, leve marmita!!!
That’s all for today!
Tons of kisses
Denise Caro. Ota.