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Meu nome é Thiago Caro e em Novembro de 2008 decretei uma moratória a mim mesmo.
Morei um tempo bom em Michigan e viajei boa parte dos EUA em treinamento para o trabalho voluntário relacionado a educação que agora faço em Moçambique. Em Fevereiro de 2010 irei de Moçambique a Israel em uma viajem cruzando por terra, em transporte local, Tanzania, Kenya, Ethiopia, Sudão e Egito. Escrevo este blog como maneira de compartilhar minhas experiências e bobagens com todo aquele que ache interessante e fale português.

thiago_caro@hotmail.com

Thursday, January 28, 2010

Outro Zimbabwe... mesmo Zimbabwe...

Após a odisséia para deixar Harare que já começava a ficar um pouco pesada... cheguei a Gweru.

A resposta para a pergunta de por que alguém vai a Gweru é o Antelope Park, uma das muitas reservas do país e com algumas coisas que me chamaram a atenção enquanto fazia uma rota para estes poucos dias, como o fato de poder fazer o safari a pé, a pé com um leão ao lado!, em cima de um elefante, cavalo, charrete ou automóvel mesmo. Muitos parques só permitem fazer o safari com um automóvel próprio e no caso eu não possuo um, tampouco verba para alugar.

Gweru é uma cidade Hub por estar localizada bem no centro do país e portanto o movimento de transporte é alto e a cidade não muito atrativa, estilo inglês ainda lembrando muito aos muitos e muito semelhantes subúrbios dos EUA. Na cidade há pouca oferta de acomodação, porém o Midway hotel (USD 2O) foi uma opção relativamente barata mas com qualidade que não via a um bom tempo. A Comida... a mesma de Harare, todos os tipos de Inn, aquele fast food caro e pouquíssimos restaurantes com comida local barata.

Em Gweru um taxi que foi negociado pela bagatela de USD 5 me levou até a porta do parque porém chegando lá o taxista disse que havia combinado por outro valor 2 dolares maior e em Rands! Ninguém havia dito a palavra Rands na conversa e o taxista começou a criar confusão... após me encher muito o saco acabei dando o dinheiro para ele para evitar maiores problemas, sem perder a chance de demonstrar minha indignação com tamanha palhaçada. Na porta do parque uma conversa com o porteiro, pessoa muito interessante, enquanto esperava que algum carro passasse e me levasse até o acampamento que ficava 7km a frente caminhados já dentro do parque (com elefantes, wildebeests, zebras...) Esgotamos nossa cota de conversa após entrarmos no assunto Mugabe e a caminhada de 7km foi tranquila em meio a uma paisagem linda, com poucas espécies de gazela e muitos leões! muitos mesmo, mais de 100!!! porém em uma área muito grande e cercada, nesta área o parque recupera leões e os trata reinserindo na natureza tanto no Zimbabwe quanto em outros países da Africa subsaariana.

Chegando ao acampamento do parque uma boa estrutura e um senhor branco, sem um braço, com roupas de treinador me surpreendem... o parque não foi barato, mas também não foi caro pensando no quanto deve custar a manutenção de um parque como aquele, apesar dos USD80 de salário do treinador de elefantes. Não é cobrada entrada, pode-se fazer o safari a pé (USD 5) com o leão (USD 65) o que te garante que nenhum bixo chega perto de você e também que todos fujam ao te ver, com a charrete (USD10), com o elefante (USD 20)... custos justos. Cada centavo gasto vale a pena.

Após a reserva da Gorongosa em Moçambique, onde vi paisagens lindas e poucos animais, estava ansioso para ver algum daqueles grandes e famosos animais que conheço pelo zoológico... e desta vez pude ver alguns dos que ainda quero ver nestes meses em seus lugares de origem... percorremos o parque em charrete o que deu velocidade e possibilidade de visitar mais partes da reserva e permitiu ver no caminho Girafas, Zebras, Antilopes, Kudu, Búfalos, Impala, Gazela.... além dos leões de longe e os elefantes. Não poderia me dar ao luxo de pagar a caminhada com o leão, mas não pude resistir a dar uma volta em cima de um elefante na savanah... os elefantes eram fêmeas, com idade média de 20 anos (vivem até 80) e bem sossegados, durante a viagem elas colocavam a tromba para trás e eu enchia a tromba de amendoim... hehehe. Se um dia você puder dar um rolê de elefante, não pense 2 vezes!

Após percorrer o parque e dar um rolê de elefante peguei carona com os funcionários que iriam até uma vila próxima e de lá outra carona até Gweru onde passei mais uma noite no hotel bom e quase barato... no dia seguinte acordei cedo para seguir viagem a Masvingo, a cidade mais próxima as ruínas do grande Zimbabwe.

A viagem de Gweru a Masvingo foi um martírio longo... inacreditável.
Em Gweru resolvi tirar umas fotos da paragem de ônibus que era incrível, antigas coisas motorizadas de todos os tipos saiam para todas as partes do Zimbabwe... cavalinho de caminhão com carroceria de onibus chinês dos anos 60... minibuses com desenhos escolares chineses por trás de uma bandeira do Zimbabwe... enquanto tirava fotos no conturbado ambiente percebi que alguns homens me seguiam, nada de anormal, porém em certo momento pararam e começaram a perguntar o que eu estava fazendo tirando fotos... respondi que achava aquilo interessante e estava como turista, então começaram com uma história muito mal contada. Me cercaram, algo como 10 pessoas dizendo serem policiais e que seria proibido tirar fotos ali... perguntei pela identificação e indaguei onde estariam seus uniformes já que policiais no Zimbabwe são como mato (realmente muitos) e estão sempre uniformizados... um deles tentou me segurar pelo meu cinto da calça enquanto eu protegia minha camera e minha carteira... a multidão em volta do muzungo aqui aumentava... Nesta hora apareceram policiais verdadeiros ao longe, então disse: vamos ali conversar com seus amigos uniformizados... a multidão dispersou e no primeiro sinal de dispersão me dirigi rapidamente a meu onibus que esperava na paragem o momento da saída, pode-se também entender como o momento em que estivesse cheio até que ninguém mais pudesse entrar. A simpatia e total falta de ambiente turístico típica do Zimbabwe.

Depois de 2 horas de espera no ônibus, o mesmo partiu em direção a Masvingo... no caminho muita gente foi descendo até o momento em que apenas 32 pessoas estavam no ônibus. No meio do nada em uma paragem em um vilarejo qualquer o ônibus para e desliga o motor... o cobrador fala alguma coisa em Xhona que logicamente não entendo e as pessoas começam a descer... algumas mulheres que falavam ingles me informam que pelo fato do onibus não estar lotado a viagem não compensa para o motorista e portanto todos deveriam descer e se amontoar em um minubus, feito para 16 pessoas. Eramos exatamente o dobro.

Muita confusão e todo mundo está dentro do minibus... eu com minha mala e a mala de Lydia entre as pernas... um outro homem em frente com as pernas entre minhas pernas e as malas... como um outro homem teve que ir em cima de uma senhora que estava com um bebe, fui com o bebe no colo... atrás de mim havia um homem que deveria ir ao cirque du soleil pois fazia com suas costas o formato de um U durante duas horas enquanto se espremia em cima de 6 pessoas que ocupavam o lugar de 3.... A viagem nessa merda demorou 2 horas e ao descer precisei de uns 15 minutos parado para voltar a sentir as pernas e caminhar. Em certo momento me bateu uma grande tristeza por tudo aquilo, não entendo por que as pessoas aceitam isso, não reclamam... eu que não sou dali não estou em posição de reclamar muito e não podia esperar por outro transporte em meio ao nada pois se o mesmo não viesse estaria fudido... Há uma falta de respeito pelos camaradas seres humanos que chega a ser rídículo, todos estavamos pagando para estar ali.

Após esta viagem simpática chegamos a Masvingo, uma cidade relativamente desinteressante por si mesma, porém proxima as famosas ruínas do império que ao se dizimar formou o império Monomotapa, famoso pela resistência a colonização na região que hoje é parte de Zimbabwe, Moçambique e Zambia. Um minibus de Masvingo até as ruínas, uma caminhada de 2km aproximadamente até o portão... e lá estava... linda e imponente a cidade de pedra que começou a ser construída por volta de 1200 D.C e até 1600D.C abrigou grande população.

A passagem pelo portão custa a bagatela de USD 15 que apesar do orçamento restrito paguei com gosto... uma pequena caminhada e chega-se ao lugar chamado great enclosure onde as mulheres do rei viviam, ao final do império elas eram 200. Essa construção de pedra em círculo no vale abaixo da montanha onde estava a morada do rei é a mais bonita e maior das que estão no vale, com grandes caminhos de pedra, torres de observação, muros altos... tudo feito com granito empilhado que dura até hoje. Essa parte das ruínas é cercada por uma vegetação bem rica e com muitos babuínos que não tem muito medo de homem, cheguei bem perto deles e tirei boas fotos que estão no album do Zimbabwe.

Caminhando um pouco para fora desta parte das ruínas estão as muralhas que cercavam a área em que a população local vivia... as casas antigas que eram feitas de palha não estão mais lá, logicamente, porém a muralha está bem preservada e algumas habitações que pertenciam as primeiras mulheres 'sobressalhentes' do rei, feitas em pedra, ainda estão lá também.

Uma caminhada de 1km subindo a montanha e a parte mais bonita das ruínas, onde morava o rei e onde eram feitos os rituais, sacrifícios, festas e tudo o que era comum ao povo que lá vivia. Ao chegar em cima da montanha, nos deparamos com um senhor já de boa idade que nos acompanhou por esta parte das ruínas contando histórias do império antigo. Um local em especial me deixou arrepiado... A bandeira do Zimbabwe possui uma aguia que é símbolo do país, nesta parte das ruínas foram encontradas 7 aguias esculpidas em pedra (que estão no museu que fica no vale) que foram inspiradas em uma águia perfeita, formada naturalmente pela pedra mais alta que está na montanha... a águia natural é linda e as outras também. Abaixo desta águia um trono também naturalmente formado era usado pelo rei. Subir neste trono foi imaginar o passado, imaginar o rei no ponto mais alto da montanha fazendo um discurso para a população local que ficava na parte de baixo e poderia escutar tudo, graças a uma pequena caverna formada pela pedra ao lado do trono que amplificava a voz do soberano. Esta caverna era utilizada para toda a comunicação com a população, por exemplo no caso de uma tribo invasora aproximar-se das muralhas... do caralho!

O Zimbabwe é um país lindo naturalmente... muitos animais em toda parte... montanhas lindas com pedras que parecem ter sido empilhadas a mão... as ruínas sem comentários, não é a toa que são patrimonio da humanidade e a segunda atração mais recomendada no Zimbabwe pelo Lonely Planet ( a primeira é Vic Falls) eu que ficava louco vendo Os caçadores da arca perdida, Indiana Jones na sessão da tarde, tive orgasmos lá... porém as pessoas em Moçambique são infinitamente mais acolhedoras, pacíficas, simpáticas, amigas... o transporte, nunca vi nada pior... me sentia uma nota de dólar ambulante. Com certeza se as coisas se acentarem de vez por lá os turistas vão aparecer, fui a pontos turisticos e vi muito pouco turista, quase nenhum, eles tem que mudar o sistema economico por lá também por que utilizar o dólar em um país africano não soa como boa idéia nem para uma criança, tudo muito caro, distorcido, a riqueza gerada não fica lá.

É isso aí, espero que tenha sido possível passar uma pequena imagem do Zimbabwe nestes dois posts...

Aquele abraço

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