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Meu nome é Thiago Caro e em Novembro de 2008 decretei uma moratória a mim mesmo.
Morei um tempo bom em Michigan e viajei boa parte dos EUA em treinamento para o trabalho voluntário relacionado a educação que agora faço em Moçambique. Em Fevereiro de 2010 irei de Moçambique a Israel em uma viajem cruzando por terra, em transporte local, Tanzania, Kenya, Ethiopia, Sudão e Egito. Escrevo este blog como maneira de compartilhar minhas experiências e bobagens com todo aquele que ache interessante e fale português.

thiago_caro@hotmail.com

Monday, January 25, 2010

Natty Dread it in-a … Zim-ba-bwe

Ola,

O trabalho em Manica foi o último entre as oficinas ao Sul da província de Manica, dali segui para o Zimbabwe pois ao passar a borda teoricamente teria meu visto que vai até dia 26, ou seja hoje, prorrogado por mais 30 dias... e também por que o Zimbabwe para mim é um dos países mais interessantes do Sul da África, sempre tive vontade de conhecer e pude um pouco em 7 dias.

Saindo de Manica um chapa (algo com motor) levou até a cidade de Machipanda no lado de Moçambique, lá o posto de imigração não foi problema, carimbo de saída e uma pequena caminhada de 1km até o posto de imigração no lado do Zimbabwe, onde precisei ligar para o Kuda e pegar um endereço de alguém residente no país para entrar, uma reserva de Hotel também funcionaria, pago os USD 30 financiados pela Humana e tenho o visto de turista para um mês.

Com o visto carimbado é necessário pegar um taxi até a cidade de Mutare, que é a primeira no lado do Zimbabwe, o taxi custa USD 3 por pessoa e chegar até a cidade sem ele é difícil e não recomendado já que são 7km no meio do mato. Atravessando a fronteira entre os dois países um babuíno atravessou a frente do táxi e mostrou que os animais respeitam a fronteira, já que Moçambique está com a fauna ainda bem reduzida mas o Zimbabwe continua bem povoado por animais ditos irracionais.

A cidade de Mutare é relativamente grande e com alguns edifícios em estilo bem diferente dos poucos de Moçambique pela colonização inglesa parecidos com os de um subúrbio nos Estados Unidos... sendo uma cidade de fronteira, o principal interesse é o transporte que saí de lá para algumas regiões do país e após duas coca-colas que custaram USD 1 um ônibus relativamente em bom estado me fez acreditar por alguns instantes no que Kuda diz sobre a diferença entre o transporte de Moçambique e do Zimbabwe... pena que por apenas uma viagem.

O onibus até Harare, capital do país, foi sem problemas e custou USD 5, no caminho o tempo todo olhava pela janela procurando algum animal em meio a mata e as lindas montanhas com pedras gigantes que parecem ter sido equilibradas a mão (Zimbabwe significa ‘Dzimba dza mabwe’ ou ‘grandes casas de pedras’) essas pedras também são as ditas ‘soft stones’, matéria prima de 50% do artesanato feito lá. Chegando a Harare me surpreendi com o tamanho da cidade e a semelhança, guardadas proporções, com Chicago... bonita cidade e por lá passei os 3 dias seguintes, seriam 2 mais um dia perdido ao final obrigou a uma mudança de planos. Ao chegar em Harare caminhei bastante até encontrar uma acomodação e o hotel Elizabeth (USD 25.0) me mostrou que o fato de utilizar o Dólar, desde que a inflação de 1.000% ao mês (surreal, tinha nota de 1 bilhão carimbado) acabou com o valor da moeda local, distorceu completamente a noção do valor do Dólar por ali e criou certos absurdos. Alguns vendedores locais de banana cobram USD 1 por 10 bananas! 10 bananas em Moçambique custam USD 0,15... o salário mensal de um treinador de elefantes, trabalho qualificado, é USD 80!. Além disso o governo americano enviou as notas de Dólar para a dolarização, mas esqueceu das moedas! Portanto se voce gastar 1,30 em alguma coisa, prepare-se para ter que pegar algo que leve a USD 2 pois as moedas de Rands (S.A) são muito insuficientes. Outro absurdo monetário é o valor dos Rands já que se estiver em Harare 1 Rand vale USD 0,10 e em Gweru vale 0.13 ! Quer ficar rico, vá a Harare, compre todo seu dinheiro em Rands, vá a Gweru e venda tudo!!! Faça isso eternamente e pronto. Outra peculiaridade é relativa a cartões estrangeiros... não podem ser utilizados para nada, saque ou compra, uma vez que o sistema bancário é desconectado do resto do mundo! Portanto se você vai ao Zimbabwe leve a quantidade de Dólares suficientes na cueca, tive que trocar meticais (Moç) e nenhum banco fazia o cambio... tive sorte de encontrar um mercado árabe que fizesse a troca pois os cambistas de rua também não trocavam.

Voltando ao Hotel Elizabeth o mesmo era caro e uma merda, ao lado da porta do quarto tinha uma porta de cofre que levava a um bar tipo balada (bizarro!) saí de lá correndo e caminhei bastante até que na 5th Street em frente ao parque Central (se fosse Manhattan, seria um pouco mais caro) encontrei o Palm Rock Villa, uma guesthouse que cobra USD 15 por um quarto bem mais descente e também sem casa de banho. A comida é outro diferencial de Harare... existem poucos restaurantes, quase nada de comida local e muito fast-food ruim! Uma rede que chamo de Inn (Baker Inn, Chicken Inn, Pizza Inn etc...) monopoliza o mercado de imitação ao Mc Donalds porém os preços, como para tudo, alto demais... em uma refeição gasta-se USD 8 facilmente o que leva o treinador de elefantes a poder se deliciar 10 vezes ao mês na rede Inn e nada mais.

Harare é uma cidade interessante pois difere muito da paisagem que a rodeia por muitos kilometros, porém acho que seria muito mais interessante se junto a este desenvolvimento nos padrões ocidentais houvesse maior semelhança com a África mesmo. Deixando de lado o transporte, tipicamente africano, as pessoas se vestem com cópias de roupas usadas no ocidente, não há mercados locais cheio de coisas locais apenas redes de supermercados com produtos de prateleira, a moeda é o dolar, a comida fast-food, tudo caro a música nos carros vem dos EUA... Apesar da música mais ouvida vir dos EUA fui a um show de música local extremamente bom em um bar a noite, com cerveja boa e barata... a banda tocou sem parar para respirar por umas 5-6 horas.

No que seria o último dia em Harare cheguei ao lugar de onde saem os ônibus para Gweru pelas 13:00. Após uma tradicional luta entre gladiadores (cobradores dos ônibus) pelo cliente, no caso eu, decidi entrar em um ônibus que foi prometido para sair em 30mins... Após 2 horas estava o ônibus que custou USD 5 partindo de Harare, nestas duas horas o motorista insistia em permanecer acelerando o ‘animal’ sem parar, chamando clientes, pensei : Ou esta merda quebra ou acaba a gasolina. Segunda opção.

Após esperar 2 horas, o ônibus andou por 500 metros e precisou ir no embalo até o posto de gasolina... chegando no posto um regador e o diesel alimentava a sede do ônibus e acabava com o dinheiro pago pelas passagens. O ônibus, uma merda, resolveu que graças a perspicácia do motorista não funcionaria mais e por 5 horas muita gente tentou fazer com que funcionasse, sem sucesso bomba queimada. Durante estas 5 horas de espera errei, pois se tivesse mandado o motorista á merda, esquecido os USD 5 e andado os 2 km de volta com minha mala bem pesada com artigos de trabalho, teria economizado 5 horas de paciência esperando a devolução do dinheiro ou que o ônibus funcionasse. Pelas 19:00 ainda naquele sórdido posto de gasolina um chapa com bandeira da Africa do Sul (lá são todos pintados por causa da Copa) parou e resolveu que por USD 8. levaria as pessoas que poderiam pagar até Gweru... como pagar Hotel de novo e perder o dia de viagem era pior entrei na Chapa, sem saber que carros sul africanos não poderiam pegar passageiros fora da Africa do Sul. O Movimento estava estranho e pouca gente no carro (sempre lotados até o máximo) o motorista volta e fala que vai tentar mais passageiros... após ele parar chega a polícia de bicicleta, com as armas apontando para o motorista... tiram o motorista do carro e algemam ele... resolvo jogar minha mala pela janela e descer (pela porta mesmo) por que a confusão aumentava e as pessoas se afastavam do carro... ao descer lembro que paguei USD 8, olho para o console e vejo o dinheiro lá... num movimento rápido pego meu dinheiro de volta e me afasto para o outro lado.

Nesta hora um rapaz e uma mulher que acabaram de parar no posto com um peugeot 206 oferecem carona até Gweru.... Éramos 6 e mais as compras para o funcionamento semanal de um pequeno supermercado dentro do Peugeot 206... O motorista estava com uma história muito mal contada que ia para Botswana e depois mudou a história... pela primeira vez recusei uma carona e depois de tudo isso resolvi que aquele não era o dia de ir para Gweru. Um taxi até a acomodação anterior e um dia perdido com transporte... O transporte no Zimbabwe se mostrou ao final da viagem pior que o de Moçambique e olha que é difícil. No dia seguinte bem cedo consegui um minibus que levou até Gweru... passar pela gasolineira a 2km do ponto de saída me trouxe más recordações porém desta vez a viagem foi sem grandes problemas, apenas o tradicional 5 no lugar de 3.

No caminho entre Harare e Gweru conheci outra tradição Zimbabweana... a propina ao policial em níveis que deixaria nossa ‘querida e amada’ PM com inveja. Nos 260 Km que separam as cidades, feitos em quase 5 horas, o minibus foi parado em contadas 8 oportunidades. Ora, se você quer fiscalizar uma estrada como rotina não coloca 8 barreiras em menos de 300km... a intenção é o cafézinho amargo. Em todas as paradas consegui ver claramente o momento em que o cobrador tirava algumas notas de Dólar e dava ao seu polícia... como uma rotina mesmo e é isso aí.

Como o diesel é raro já que em todo o sul da África ninguém produz petróleo outra característica do transporte por lá, percebida em algumas ocasiões é o abastecimento em meio ao nada. Em meio ao nada o ônibus para... de dentro do mato saem algumas pessoas com galões na mão tentando vender o que muito provavelmente é um Diesel queimado ou contrabandeado.

Welcome to Zimbabwe ! Por ser a capital, maior cidade, Harare merece uma visita... mas os sítios que pude ir nos dias seguintes foram bem mais a cara do Zimbabwe que eu imaginava.

Aquele abraço

1 Comment:

Thiago said...

E ae Thiago! é o thiago da california! manero sua postagem do zimbabue. tenho acompanhado seu blog! com relação ao petroleo, vamo lembra de angola! se pá, é o único mesmo!